21.12.06

O casamento do Morcego – parte II – A festa


Fomos os primeiros a chegar, claro… escapamos do engarrafamento no gigantesco pátio em conflito com o minúsculo portão da igreja! Estávamos na loja de conveniência, lembra? Os três coolers que eu tomei já me deixaram mais leve, exceto o pé! Esse ficou mais pesado. A avenida Agamenon fica muito convidativa à velocidade nesta hora, exceto por aquala maldita lombada eletrônica, que eu juro que se me fotografar outra vez, vou processá-la por uso indevido de minha imagem!!!

A casa de recepção não era muito fraca, não. Talvez uma das melhores do Recife, num bairro tradicional, e montada nos fundos de um imponente casarão na rua Benfica. Obviamente, a “casa grande” foi mantida irretocável para garantir o bucolismo luxento a que os pais da noiva têm direito, além das tradicionais fotos: salão, escada, espelho, poltrona, etc.

O bom de chegar primeiro a esses eventos, é que, além de escolher a mesa, vimos todo mundo chegar, e todos(as) também nos viram, ou seja, o que tiver de acontecer, não deixará de ser por falta de contato, pelo menos o visual.

Chega a ser engraçada a cadeia cíclica que envolve casamentos em uma turma de infância. De nós, fui o primeiro a casar, e Morego é um dos últimos. Mas o que antes era a mesa dos solteiros, hoje é a dos separados, com uma pequena variação na mesa dos casais, que, ora tem mais, ora tem menos gente… aí está “o equilíbrio da força” que rege a sociedade (profundo isso, não?).

Não só o lado masculino da situação pós-divórcio estava representado. A alguns metros da nossa mesa, havia outra, a das amigas da noiva que, na última década, também tiveram seus casamentos desfeitos. As “separadas” (parece letra de funk), eram mulheres bonitas (a produção ajuda, mas suas essências estavam à mostra). Tatiane estava lá… linda como sempre, e me esnobando, como nunca!

Na adolescência tivemos um affair... daqueles de verão… chegamos a namorar, já como adultos, mas motivos injustos como trabalho e mudança nos afastaram. Esses relacionamentos mal resolvidos sempre deixam uma ponta de conversa para uma outra ocasião. Seria hora da “ocasião”? Não tinha certeza… quando a olhei ela apenas descreveu um arco com a mão em palma, e, se minha leitura labial não estiver enganada, disse um “oi”, mudo e demorado, como quem preferisse que o nosso contato naquela festa fosse restringido àquilo… pelo menos até a hora que tocou forró!!! :)

Procurei-a na mesa, mas, já decepcionado por não achá-la, me virei e… adivinha quem tava na minha frente, da minha altura (o salto ajudou, pra variar), linda como sempre, e chamando pra dançar? Raquel… ora, quem não tem cão…


P.S.: a festa foi boa sim, muito boa, boníssima!!!

11.12.06

O casamento do Morcego - parte I - A cerimônia


Pessoalmente, acho que é muito sadismo chegar cedo ao casamento de um amigo. Esforcei-me pra chegar à igreja quando todos já estivessem dentro, inclusive a noiva. Mas confundi os horários: cheguei às 20:40, pensando que o enlace (bonito isso!) começaria às 20. Ledo engano, estava marcado no convite às 20:30, mas a nubente (tô meio antigo hoje...) só chegou perto das 22.

Não sei quem inventou essa onda de que a noiva deve atrasar. Dizem que é chique. Acho que não é muito legal pra quem tá num terno quente, num recinto pequeno, lotado (todos os 300 convidados) e com sede, tive que tomar um copinho d’água, que fica num barato de inox para os padrinhos. Acho que a organizadora não gostou muito. Calor batendo no juízo, suor escorrendo pelo interior do terno (filho único e figurinha carimbada em tudo que é casamento e formatura).

Quando as trombetas soaram pensei que já tava ouvindo sons estranhos, devido à desidratação, mas não! Eram os padrinhos entrando. É uma música pros padrinhos do noivo, outra pros da noiva, para a mãe, noivo, outra quando a noiva aponta no portão e outra quando começa a andar... isso cansa! Se eu casar de novo quero todo mundo entrando numa música só, um frevo!

Valeu à pena! Érica estava lindíssima. Foram 10 anos de namoro, que não denegriram sua beleza, já o Morcego – Henrique – (quando recebi o convite fiquei algum tempo tentando lembrar quem era Henrique. Conheço ele há mais de uma década e pra mim ele sempre foi Morcegão), engordou um pouco (quem não engorda?), mas ainda é um cabra bonito.

Havia alguns dos amigos descasados na cerimônia, e, estrategicamente após termos sido filmados (pra marcar presença) fomos pra uma loja de conveniência tomar uns coolers antes de irmos à recepção na Blue Angel... a festa prometia...

continua na festa...

28.11.06

Meia volta: Volver!


A convite de uma amiga, assisti ao filme Volver, de Almodóvar. Não! Não fui com ela. É uma amiga virtual, mora em Porto Alegre e nos conhecemos através do universo blogueiro. Mas o convite, a dica e a crítica me interessaram. Talvez, quando as passagens ficarem mais baratas a gente marque um happy hour no cinema.

O filme é bom, muito bom, como devem ser todos do “mestre”, confesso que não Assisti a muitos. A fotografia impecável,e o roteiro contundente e simples. Previsível, sim, mas sem tirar o mérito da abordagem humanista e, principalmente, da questão mulher-sociedade. Bem, não sou crítico de arte, não tenho tais pretensões, e não quero estragar cineminha de ninguém, antecipando o que se passa na película. Atenho-me a duas cenas, logo no início, que não influem para o desenrolar da trama, e que passariam desapercebidas em uma sociedade desprovida de preconceitos e nóias cotidianas, mas que retratam muito da dimensão interpessoal abordada:

A amiga de Penélope Cruz, puxa um saquinho de dentro de uma caixa de bijuterias e arma o maior baseado, na frente da sua irmã e de sua filha. Há um comentário sobre exemplos e... só. Não há espanto, rancor, apreensão, ou quaisquer tipos de discriminação porque a mulher dá uns “tapinhas na erva”, de vez em quando (ou em sempre, não sei).

Em outra passagem, bem próxima por sinal, passam mãe e filha por uma amiga prostituta, e a cumprimentam. “Que fosse” um filme no Brasil, na cidade grande mesmo, a mãe taparia os olhos da filha, ou a encheria de conselhos e de recomendações para evitar contato com “esse tipo de gente”. Pois bem, o agir correto é demonstrado com perfeição pela protagonista. O tratamento é, e deve ser, o mesmo destinado a pessoas que tenham outra profissão qualquer: médicas, juízas, jardineiras, advogadas (com algumas ressalvas para os machos dessa última espécie), exceto políticos lógico, nesses, não se pode confiar, mesmo!

No mais, o filme é apaixonante, forte e envolvente. Nos faz pensar sobre os nossos problemas e nos dos outros também, tirando um pouco a idéia inerente ao ser, de que cada um é uma ilha, e que as águas ao nosso redor não banham as costas dos próximos, ou seja, como diria minha prima: “ema, ema, ema... cada um com seus problemas”.

P.S.: “Que” eu fosse você, iria ver...

22.11.06

Baixaria

Comprei um contra baixo e comecei a aprender, portanto, desculpem as falhas...

Recado (Maria Rita)

P.S.: sambinha é o que há pra tocar baixo!!!

17.11.06

Ó dia...


Não sei se já aconteceu com vocês? Na última terça-feira eu tive a nítida impressão que o mundo estava conspirando contra mim. Não apenas as pessoas: o tempo, a saudade, os objetos e os animais também. Todos me odiavam, desde pequenos. Era como se uma premonição acontecesse a cada minuto e tornasse tudo suspeito.

Atrasei-me porque o despertador não tocou. Saí numa pressa só. Quando já tava na metade do caminho pra buscar os meninos e levá-los pra escola, notei que havia esquecido a carteira, que não estava colada no pescoço, motivo pelo qual eu não esqueço a cabeça! Voltei... ralei o pára-choque do carro no portão do prédio. Subi puto xingando o elevador que demorava. Parece que ele entendeu o xingamento. Quebrou! Comigo dentro! Foi uma daquelas quebras que a porta abre e o cara só vê concreto e uma pequena abertura, que dá pra sair se espremendo, me espremi.

Com as crianças? Tudo bem. Como sempre. Mas quando estava indo pro trabalho... (sou funcionário público em meio expediente, alguém tem que ser, né? Além do mais, não é tão ruim assim, pelo menos o leitinho das crianças tá garantido) ... aconteceu um indício do que me aguardava: meu carro foi confundido com um carro roubado. Quando parei em um sinal de trânsito fui fechado por uma Blazer e duas motos do batalhão da polícia. Os “omi” já desceram com as 12” apontadas pra mim... “torei um pino”, pensei: “vou levar bala porque o vidro é escuro”! Depois do susto e de abaixar a janela, mostrei o documento e os caras me liberaram.

Quando chego ao estacionamento em frente ao Teatro de Santa Isabel, destinado aos funcionários do Ministério Público, não há vaga, ou melhor, as vagas estão ocupadas, também, por carros que não têm o adesivo obrigatório. Comentei com um guarda, que estava à sombra, que alguns veículos não possuíam tal identificação, portanto não deveriam estar ali, e ele disse:

– Não “senhor” (apesar de eu ser mais jovem que o cara, ele me chamou assim)! Esses carros são do MP sim!!! Agora o “senhor” (de novo) está todo errado, dizendo o que não sabe, pois o motorista se identificou, e eu deixei ele estacionar.
– Então VOCÊ vai ficar o dia todo aqui?
– Não senhor, daqui a pouco vou fazer uma ronda. Mas isso não vem ao caso! Eu já autorizei esses motoristas.
– Então me responda, “seu guarda”: VOCÊ acha que um outro guarda, que passe por aqui, não irá multar um carro sem adesivo, onde é obrigatório seu uso? VOCÊ não acha que está prejudicando esse servidor que não tem identificação em vez de ajudá-lo?
– Não estou prejudicando, não! Porque eu não multo quem estaciona aqui, e ninguém vai multar também e VOCÊ (aprendeu) não é o primeiro que reclama.

Despedi-me do “oficial” e fui estacionar do outro lado da ponte, indignado. Tive medo de perder minha serenidade.


Quanto ao guarda não multar ninguém: eu descobri que ele recebe um percentual (toco, propina, mocó) dos flanelinhas que “guardam” os carros, que deveriam estar do outro lado da rua, no nosso estacionamento. Quanto ao carro roubado, era sim igual ao meu, mas foi encontrado abandonado e sem som em Olinda. O elevador foi consertado e o usei no mesmo dia, à noite. Troquei as pilhas do despertador.

P.S.: quase tudo resolvido. Só a saudade não passa.

8.11.06

Da carne ao dancing


Quebrar a barreira do som é fácil. Qualquer um que tenha acesso a um jato supersônico pode fazer isso sem muito esforço, basta ultrapassar 1.224 Km/h, aproximadamente, e pronto! É uma questão física. Não sentimental, ou comportamental, para ser preciso. Difícil mesmo é quebrar a barreira do silêncio. Desconfortável é estar em um local onde nunca se esteve antes, com gente que nunca vimos e, ainda assim, ultrapassar os limites da timidez.

Após um churrasco que durou o dia todo, regado a vodca e Sapupara (em que nível chegamos?), e uma parada na praça de Casa Forte (Recife) pra dar uma olhada no show da Fim de Feira, resolvemos, eu, Roberto e Sávio, meu primo, dar uma passada em um barzinho desses badalados. Esses lugares onde tem muita mulher bonita, ou melhor, só tem mulher bonita.

Estávamos como no churrasco: tênis, bermuda, camisa e boné. Até então não havia percebido que as pessoas naquele ambiente pareciam recém chegadas de um casamento, tal a “beca” exibida. Os porteiros não nos proibiram de entrar usando aqueles trajes (claro! Pagamos o ingresso, né?). Quem estava tocando era Geraldinho Lins. Não é que o cara tem música gravada por tudo que é cantor famoso... um dia ele ainda vai fazer sucesso em todo Brasil.

Logo na chegada fomos pegar um uísque pra manter o nível em que aquela barreira supra citada, fica translúcida, e na seqüência a vimos: alta (maior que eu, o salto ajudou), morena, cheirosa (fato só constatado depois) e arrumada. Pensei que nunca algum de nós iria conseguir dançar com ela, devidos ao estado maltrapilho que nos encontrávamos (tinha gente até de terno).

Pra mim foi uma pena que Roberto tivesse me dito que iria chamá-la... minha intenção era exatamente esta, mas, em respeito ao seu pronunciamento antes do meu, fiquei apenas observando, como sempre... pra minha surpresa e de Sávio, Bob conseguiu dançar com a deusa, e mais que isso, aparentemente estavam conversando... e mais! Ao final da noite ele conseguiu até seu número.

Esse episódio nos encheu de coragem. Não parei de dançar o resto da noite, ou melhor, madrugada. Foi uma boa farra, dispendiosa (“doze conto” a dose de uísque), mas valeu como experiência. A semana que se seguiu foi difícil pra Bob. Aflição e incerteza na espera da coragem pra fazer a tal ligação: o que dizer? O encorajamos muito, mas sem o subterfúgio alcoólico não deu para Roberto keep walking...

P.S.: até hoje ele passa horas falando sobre o cheiro dela.

1.11.06

Histórias que começam bem também acabam


Horácio (sim, ele tem nome de estória em quadrinhos), não entendeu nada quando Keyla (sim, ela tem nome de cantora de brega) pediu o divórcio. Afinal, eles já estavam casados há quase 16 anos, tinham três filhos e uma vida estável. Além do mais, apesar do tempo de casados, ainda eram jovens (38 e 35), bonitos e intelectuais de direita. Ele, advogado, mais na frente conto um caso que retrata sua personalidade. Ela, química, mas já estava sem emprego há alguns anos.

Onde eu entro nesse conto? Não sei bem porquê, mas Keyla “cismou das pregas”, ou fez bamborim com os nomes dos amigos, e o meu deu “na cabeça”, que eu era bom pra dar conselhos. Talvez por ser experiente nessa história de separação, ou sei lá o quê? Marcamos um almoço (sushi) e falamos sobre as intenções dela de mudar de ares e, quem sabe, até de cidade.

Bom, o lance com Horácio foi o seguinte: estávamos em um restaurante no Centro do Recife, e na hora de pagar a conta, a moça do caixa deu o troco a ele, foram algumas moedas e um bombom, desses do tipo Xaxá... pois bem, o cara, todo vestido de advogado, respondeu pra coitada, com o “tato” comum à classe:

− Não cidadã! Não quero esse bombom, prefiro os cinco centavos de troco.

E a moça respondeu com toda a paciência do mundo.

− O bombom é cortesia senhor.

Horácio procurou, literalmente, um buraco no chão pra se enfiar, e os amigos, inclusive eu e Keyla, passaram o resto da tarde rindo sem parar. Até aí tudo bem, pois esse traço de personalidade do cara já era conhecido, e sua esposa (ou ex-esposa) até achava graça dos seus foras.

O problema, segundo a própria, foi que o “balde transbordou”. A última gota fez com que o que antes era engraçado, se tornasse insuportável e o racha na relação foi inevitável. A princípio tive um pouco de pena. Por ele, pelos filhos, pela sociedade... mas depois, comecei a achar que a vida para aquelas pessoas ainda não havia chegado à metade, e que passar mais cinco ou dez anos infelizes não iria enriquecê-los. Se têm que se separar, o façam, e o façam com cordialidade e respeito, principalmente com as crianças.

Estarei sempre por perto quando qualquer um dos dois quiser conversar. E continuarei a ter meus almoços com Keyla e Horácio, torço por eles, mas agora de forma individual. Tenho certeza de que a felicidade, que por hora se esconde nas entrelinhas da fase de transição (divórcio), virá “dicunforça” para ambos, meus amigos.

P.S.: pronto! Mais um pra alugar casa no Carnaval 2007!

26.10.06

No mato com um javali


Esse lance de cadeia cíclica dos acontecimentos me deixou um pouco apreensivo neste último mês. Talvez tenha sido influenciado por assistir, de novo, duas temporadas de Lost. Sei que estão acontecendo coisas inéditas na minha vida, como o acidente de carro (como é que alguém capota 4 vezes e sai sem nenhum arranhão?), ou a solidão (nunca fiquei sozinho antes, não como agora e por tanto tempo). Mas acho que tudo isso é conseqüência.

Foi exatamente esta palavra que ecoou ali... perto do hipotálamo, e ainda ecoa, quando faço algo que, digamos, não seja tido como um exemplo de boa conduta. Voltando a Lost, a frase exata, que atormenta o cafajeste da série é: “haverá conseqüências”, e se faz ouvir após uma maré de má sorte ancorar sobre o cara. Teve até javali tirando água do joelho em cima da mochila dele.

Comigo não acontece o mesmo que com Sawyer (é o cara), mas sinto que quando uma coisa não anda muito bem, deve-se a um certo “acerto” enviado por uma força superior. Acredito nisso. Creio em providência, já aconteceu muito ao meu redor. E se ela existe nos momentos difíceis e desesperadores, outra força inversa também atua, nos momentos em que precisamos de um puxão de orelha. Alguns chamam de castigo, mas prefiro considerar como alerta!

Nos relacionamentos acontece isso também. Se estamos sós, esperando ou sofrendo por outrem agora, não é por acaso. Basta fazer uma reflexão mais precisa, um “mini-fashback”, que descobriremos atos parecidos, praticados por nós mesmos, que magoaram gente(s) em nosso passado: são as conseqüências... “havendo” (com gerúndio e tudo). Nos restam resignação e o entendimento de que pessoas não são brinquedo. E que uma boa maneira de evitar tais sofrimentos seja o bem agir.

P.S.: tô fazendo a minha parte... espero que daqui pra frente as coisas melhorem.


19.10.06

Se melhorar, estraga


A intenção estava à mostra. Mesa posta... sim, mesa! Aquele negócio de comer no centro da sala já era... agora tenho uma mesa. Comprei de metal preto, com tampo de vidro igualmente preto e cadeiras pretas. Instalei uma luminária sobre o jantar. Arrumei os pratos laranja pra que completassem a cena. Ainda tinha uns copinhos de japa pra saquê.

No jantar teríamos sushi. Eu mesmo fiz! Sempre soube fazer. Aquele arroz tipo “todos juntos agora” que eu fazia era um indício da minha real vocação: sushiman! Agora, com o tipo certo do arroz, e o restante dos ingredientes vendidos bem perto da minha casa, vou acabar me especializando nessas iguarias nipônicas.

Na hora marcada você chegou. Não desconfiei de nada, apenas da sua cara um pouco embaçada, lembrava aquele quadro de carvão sobre tela que tem no quarto, estranhei um pouco a sua pontualidade, ce nunca foi disso. Estavas linda, como sempre. E eufórica, me pediu pra buscar suas “coisas” no táxi. Desci correndo e, claro, paguei a corrida. Quando subi, ouvi barulho de chuveiro. Automaticamente me escalei para o banho a dois. Esse é o único jeito de você ficar ainda mais bonita, no banho. A gente voltou à sala de roupão, mesmo: um preto e um branco. Peguei o sushi na geladeira e o saquê no freezer... completamos a cena.

Esperei você dizer que o sushi estava muito bom, pra só então dizer que eu o fizera, você duvidou, claro, mas no fundo sabia ser verdade. Como sabia que aquele seria o primeiro de muitos jantares àquela mesa, e que nossos mundos, enfim, estariam completos.

Tudo estava perfeito: da comida à mulher... até que meu celular tocou. Era Enéas, chamando pra tomar cerveja no Confraria! Pois é... depois disso, olhei pro canto da sala onde deveria estar a mesa e só havia algumas almofadas... era tudo sonho! Mas um dia...

P.S.: claro que fui tomar as cervejas com meu amigo, mas já cheguei brigando com ele por me telefonar em hora imprópria.

15.10.06

Adequação

Tem música pra todo tipo de situação.

Essa de seu Jorge (Tive Razão) é uma delas, ou melhor, é ela!

Faça o download da última música do compartilhamento:

http://www.4shared.com/dir/975161/fc4f118a/sharing.html,

ou aqui
Tive razão.

Abçs,
Ás.

P.S.: nunca havia tocado esta música, mas ouvi um amigo numa festa na sexta, e achei que caberia na atual conjuntura!

10.10.06

Entre galos e borboletas


Tenho amanhecido assim. Não sei há quanto tempo, nem mesmo sei se o tempo tem alguma coisa a ver com isso. Uma década não quer dizer nada pro caos instalado em minha mente se dissipar e atingir um rumo, um sobrado sem eira, mas com janelas para poder avistar os reflexos do sol nas varandas vizinhas.

Tenho me sentido assim: não bastante seguro para enveredar por uma outra estrada, e não inseguro o bastante para desistir. Mais um conto que desponta e desprende-se como um corpo sem gravidade e sem propulsão. Com intenções esdrúxulas de alterar inércias e caminhos. Com esperanças toscas e destroçadas pela solidão.

O som da ave é assim, constante e protetor. E só consigo ouvi-lo porque não tenho sono. E só consigo enxergar as asas rígidas e irritantemente simétricas dos lepidópteros porque geralmente há Lua. Sem isso não haveria sentido a espera pela madrugada. Não há história. Não existe deslumbramento, só remorso.

9.10.06

É melhor só observar

Depois de um longo tempo sem festas (e as festas da “laje” eram de tirar o fôlego), a comemoração pelo reencontro dos companheiros de partido, após a eliminação do seu candidato do pleito eleitoral foi marcada, como sempre, por churrasquinho de gato e cerveja, muita cerveja. Afinal, a vida continua, candidato.

Eu, como todos os demais, já havia passado da sexta lata de cerveja e devorado três gatos completos, pelo menos. Até que Claudinha, achando que a bagunça tava pouca, chamou Marcinha (ah... a marcinha) e mais três ou quatro remanescentes, incluindo este quem vos escreve, para “esticar” até a sua casa. Apartamento gigantesco na zona sul (o meu inteiro caberia na sala dela). Eusébio, um novato goiano, que estava tentando a vida aqui pelo Nordeste, ouviu o convite e se escalou para ir junto. Ninguém o conhecia muito bem, principalmente depois de estar com aquela quantidade de sangue no seu álcool, ou será álcool no seu sangue? Não importa. Como bom observador, fiquei na minha, enquanto os mais “altos”, como Eusébio, balbuciavam coisas indecifráveis, motivo suficiente para deixá-lo de fora da farra. Mas o pensamento geral não era excludente, e fomos todos à referida casa, após uma paradinha estratégica pra comprar cervejas e brebotes (num sou muito velho não, mas escuto os sábios e experientes). Já passava da meia-noite, mas o ânimo estava apenas começando. Logo na chegada, os que ainda tinham alguma noção de perigo, acharam que Claudinha pusera a música alta demais. Ela disse que era “normal”, altas festas ocorriam no prédio até amanhecer: muito forró e mais forró.

Confesso que não sou um mal dançarino, até já houvera ganho um concurso, quando tinha 17 anos (boa época), e as meninas descobriram isso. Todos dançamos até dar uma dor. O problema foi que os elementos álcool, som alto e exibições corporais (a dança pessoal, a dança), são uma combinação um tanto “estigatória”, para alguns. Acho que foi isso que influenciou Eusébio.

Lá pras tantas da manhã, ninguém mais viu o cara, sumiu, danou-se! Algo ocorrera. A dona da casa estava irada, gesticulando e contando tudo pra Zeca, que tinha saído da varanda pra pegar umas cervejas na cozinha. E Zeca foi o único que soube o que realmente aconteceu. Ficamos apenas com um pedido de desculpa, por parte de Claudinha, imaginando o que significavam aqueles gestos. Mais ou menos às quatro da manhã, atinamos que Eusébio, apesar de ter feito algo que provavelmente não aprovaríamos, teria saído andando, por um bairro não tão seguro assim. E o que é pior: sem conhecer nada do lugar, pois morava na zona norte há poucos dias. Fizemos então o que a consciência nos mandava: equipe de busca e salvamento.

Só depois de meia hora procurando pelo cara, consegui atinar para o fato de quem estava precisando mesmo de uma equipe de busca e salvamento era eu, que estava no carro com Marcinha, cujo motorista, Rodriguo, era o maior dos alcoolizados. Após algumas barbeiragens e zigue-zagues na avenida principal, decidimos ir pra casa (cada um pra sua).
Demos graças por chegarmos bem... e aguardamos, até hoje, alguma explicação do que aconteceu no evento!


P.S.: Quer saber? Cada um com seus problemas, por ora vou vivendo com as cervejas e os forrós, mas só observando.

3.10.06

Compartilhamento

Existem sites na net que são repositórios de arquivos. São como os blogs, mas podemos "hospedar" arquivos, dos mais diversos, como: músicas, vídeos, programas, etc. Com a vantagem de disponibilizarem, no próprio site, players para "tocar" as diferentes mídias.

Achei um desses e coloquei algumas músicas... segue o link para o meu drive virtual.

Se quiserem fazer o SIGN-IN, é fácil e rápido. A versão FREE tem 1 GB livre.

http://www.4shared.com/dir/975161/fc4f118a/sharing.html

abraços,
Ás

P.S.: o site é o www.4shared.com

27.9.06

Sentido!


Lúcio saiu de casa aos 23 anos. Não agüentava mais a repressão exercida pelo pai. Os militares, geralmente, são assim: caxias e austeros. Na verdade, a idade pouco importou para sua decisão, a gota d’água foi a surra que seu irmão, Flávio, levou no dia anterior, por ter confessado sua preferência sexual: “incondizente com a condição de filho de militar”, segundo o pai. Bateu tanto no coitado, que só parou quando ouviu o estalo do nariz quebrando. Como se não bastasse a surra, o expulsou de casa.

Flávio, mais novo que seu irmão, era o caçula e Lúcio o do meio. A irmã mais velha se chamava Martinha, estudava medicina e morava em uma república perto do campus. A dona Carminha, mãe dos três, morreu de parto com o nascimento de Flávio (claro), talvez por isso seu pai nunca tenha o amado como aos outros dois, e mais, talvez tenha gerado nele um sentimento de ódio, transferindo-lhe a culpa pela morte da esposa.

Agora o Ten. Jardel morava sozinho naquela mansão. A solidão o acompanhava e tratava de deixar seus dias sombrios e depressivos. Todos no quartel diziam que ele descontava nos recrutas as suas amarguras de casa. Agora os coitados eram os jovens soldados que tinham que estar SEMPRE sob a supervisão implacável de um homem que não conseguiu criar seus filhos com amor, e por isso os perdeu.

Anos após o incidente da pancadaria paterna, Jardel foi procurar o seu filho do meio, Lúcio. Ele havia descoberto sinais de onde ele morava, através de um primo distante... foi encontrá-lo. Lúcio era dançarino de uma boite-gay. Assistiu ao seu show. Houve um momento que ele jurava que era Gloria Gaynor mesmo. Chocado, procurou o filho após o espetáculo. Lúcio, assustado e com medo da reação do pai, não disse nada. Jardel chegou perto do filho, abraçou-o e disse:

- Meu filho (ou filha, pensou), responda apenas uma pergunta: o que eu fiz pra que meus filhos não gostassem de mulher? – E Lúcio respondeu:

- Que é isso papai, na família tem uma pessoa que gosta muito de mulher, a Martinha!


P.S.: Adaptação da história de um vizinho que eu tive há 15, 16 anos, mais ou menos. Os nomes foram alterados pra preservar a vida alheia.

22.9.06

Enquanto você não vem


Eu me desarrumo e me re-arrumo
E saio e volto e não gosto
Eu perco as horas, não me lembro
E esqueço o teu remorso
Entrego-me ao teu veneno

Acoberto-me em teu encanto, em teu pranto
Pra que o mundo ao meu redor
Perca-se em meu mal intento
Pra que a espera por alento
Não demore, venha com o vento

Eu escapo, faço reza
Vou pro teto, pra janela, pro meu quarto
Não me atiro, aguardo e calo
Não te passo, te reservo
Em péssimos sonhos, em céticos versos

20.9.06

“A vida começa aos 40?”


É MENTIRA! Não se pode generalizar. Se bem que eu já estou mesmo perto dos 40. Mas a vida começa, no sentido do entendimento do ser a que ela se propõe, em idades diferentes, dependendo do nível de maturidade e de experiência de cada um. Não quero dizer com isso que já sou maduro e experiente o suficiente para avaliar que estou “iniciando” a minha vida. Só acho que algumas etapas foram completadas, e muito bem completadas, deixando lindos frutos e histórias resolvidas. Agora é partir pra o começo da nova estrada, que pode iniciar já, aos 30 e poucos, ou até mesmo aos 40, quem sabe?

Barril (tinha esse apelido pela circunferência acentuada na cintura), era um homem bem resolvido financeiramente. Trabalhava no ramo de eventos e recepções, e morava ao lado de seu trabalho. Éramos adolescentes e batíamos um volleyball na praça em frente. Pois bem, vez por outra ele nos convidava para a festa da noite e, obviamente, íamos todos.

Conhecíamos a atual namorada e o filho de Barril, que era mais novo, mas já jogava bem, e a amizade cresceu daí. Conclusões tiradas: ele tinha uma ex-mulher, a qual devia pagar uma ótima pensão e arranjou uma namorada. Depois soubemos que a ex também havia arranjado um namorado (é a melhor coisa que pode acontecer para um relacionamento que terminou). Pois bem. Festa rolando, “cerveja na canela”, boa música (acho que tava tocando Information ou Depeche, era o que se ouvia!). Estávamos em uma mesa atrás do anfitrião e sua namorada, quando Beto diz:

- Galera! Agora é bronca! A ex-mulher tá vindo ali!

Que bronca que nada. A dona sentou, não sem antes dar dois beijos na namorada de Barril, e começaram altos papos sobre como a vida é bela. Ficamos curiosos em saber se a relação sempre fora assim, ou se alguma luz misteriosa havia alterado o DNA das envolvidas. Perguntei à Marcinha, que era da família, e ela disse que sempre se deram bem, os quatro: a primeira esposa, a segunda esposa (só durou dez anos) e a nova namorada. Mal ela acabara de dizer entra a segunda pela porta e, de longe, já abre os braços e sai em direção ao grupo... todos se abraçam e ensaiam até um grito sincronizado, como aqueles das torcidas... êo, êo.

P.S.: a vida começa mesmo no presente, agora, está acontecendo, começando todo dia! O importante é estar feliz!

14.9.06

Cazá, cazá... e descasar!


Ô raça essa humana! As diferenças entre os tipos de pessoas e mentes encontradas num casamento, ou em uma “corrida de ônibus” (capotei com o carro semana passada, tô de busão) são incomensuráveis. Nas outras espécies os padrões de comportamento e reações ante aos fatos são repetitivos e esperados, por exemplo: a drosophila Melanogaster (mosca da banana), sempre será atraída pela luz-azul-mata-mosca, não importa quantas gerações passem, elas repetem o mesmo erro dos seus antepassados. O homem, não! Esse tem o poder de aprender com seus erros e, em muitas ocasiões, de errar de maneira diferente, inovadora mesmo. Mas ainda há os que erram do mesmo jeito!

Jorge e Sabrina saíram de um casamento desgastado, muitas vezes por pequenas desavenças, coisas que poderiam ser evitadas. O embate que, segundo Jorge, deu origem ao divórcio foi a batalha travada entre seus times de futebol. Um era tricolor e a outra, rubro-negra, coisa que na época de namoro servia até para gerar um carinho extra quando o perdedor ficava triste, pelos cantos, e o vencedor aumentava a dose de carícias como compensação. Dava até em cama, na maioria das vezes.

Depois do casamento essas demonstrações de afeto-pós-partida foram esfriando, esfriando, até que cessaram de vez. Até aí tudo “normal”, nada de sobrecomum, nesta sociedade em que as uniões têm o status de monótonas e que os cônjuges não fazem muito esforço para mudar essa máxima.

Depois do quarto título seguido do time de Sabrina, justo em cima do arqui-rival, o time do Jorge, um clima insuportável de superioridade se instalou em casa. O coitado não podia dizer nada, que ela já rebatia: “e aquele golaço!” ou, nos piores casos: “time de Mané, é time de Mané!”. Acabaram.

O que surpreendeu Jorge, não foi saber que Sabrina havia casado de novo, seria natural, claro. Afinal, ele mesmo já estava “amarrado” novamente. O que chamou a sua atenção, naquele encontro no shopping, domingo à tarde, meia hora antes do jogo, foi ver Sabrina de mãos dadas com um tricolor. “Tem gente que não toma jeito mesmo”, pensou.

12.9.06

Todas as estrelas seriam poucas

Tem algumas frases que eu penso:
por quê não fui eu quem escreveu?
Uma delas é essa de Nando Reis:
"estranho seria se eu não me apaixonasse por você...".

Como não compus a dita, pelo menos posso interpretá-la...

AllStar.mp3

Abraços,
Ás.

10.9.06

Três de lado e uma de frente


Descobri, da pior maneira possível, que aquela estória da vida que passa como um filme na nossa mente, no instante de um acidente, com o perigo da morte rondando, ou melhor, rodando junto com o carro, é tudo “balela”! Não dá tempo de pensar em nada... muito menos em assistir filme!

Com a graça de Deus, havia acabado de deixar meus dois filhos na casa de praia da mãe deles em Itamaracá. Fiz aquele percurso uma centena de vezes. Conhecia aquelas curvas como quem conhece as curvas da sua mão. Tratava-as bem, mas naquela tarde do dia nove, uma garoa fina e persistente ajudou a deixar as coisas, como direi? Escorregadias...

Após uma ultrapassagem em um local permitido, me deparei com a “derradeira”, a curva que foi o pivô do acontecido. Devo ter entrado nela beirando os 70 Km/h, velocidade mais que segura para aquela parábola. Como disse antes, já havia passado mais de 100 vezes por ali, e mais de 50, pelo menos, na mesma velocidade. Não contava com o que me aguardava... um motociclista vinha em sentido contrário, beirando a faixa, enquanto eu ainda estava descrevendo a trajetória curvilínea. O susto foi inevitável, virei abruptamente o volante, foi suficiente para o carro derrapar, atingindo com a traseira o coitado do motociclista e jogando-o longe, no matagal. Enquanto isso, o desespero tomou conta da direção. Atingi o acostamento, capotei três vezes de lado e uma de frente. O carro parou de rodas pro ar. Nesse momento agradeci muito a Deus pelo acidente ter sido na volta e por estar sozinho. Depois veio a preocupação com o motoqueiro...

É incrível como “brota” gente do chão nessas horas. Não havia ninguém na estrada, tanto é que não houve testemunha do acidente, mas quando consegui me livrar do cinto e despencar sobre o teto amassado do carro, já tinha um cara perguntando se “tinha alguém vivo aí?” Arrastei a cabeça pro lado da janela e perguntei sobre o outro envolvido na fatalidade. Ele disse que iria procurar o rapaz e descobriu que ele tinha quebrado o pé e que já haviam chamado o Detran. Na volta, perguntei se ele tinha celular e pedi que ligasse para o meu... não o encontrava na bagunça do interior do carro. Tocou, estava embaixo (ou em cima, dependendo do ângulo) do banco, consegui pegá-lo, junto com minha carteira com os documentos e saí me arrastando pela, agora, estreita janela.

Uma mini-multidão já estava no alto da ribanceira, os policiais já haviam chegado ao local. Foram logo perguntando “quem era o condutor do Fiesta?” Ergui a mão e fui interrogado sobre o acidente, tudo com muito respeito e profissionalismo, por parte deles... não pensei que seria tratado daquela maneira, mesmo porque, havia atingido, involuntariamente, aquela moto. Quando terminei de descrever o ocorrido a ambulância já estava removendo a vítima para o Hospital da Restauração. Liguei para o marido da minha prima, que é médico, perguntei se ele conhecia alguém que pudesse fazer algo pelo "pé do cara"? Ele respondeu que o Hospital era referência no NE nesses casos e que eu não me preocupasse.

Agora era esperar o guincho, a carona com o agente da seguradora, acompanhar o “resgate do carro” e torcer pra dar perda total. Tinha um casamento para ir à noite, já não tinha carro, mas os amigos já haviam me dito, por telefone, que me levariam... é bom ter amigos.

P.S.: O fato interessante foi ter respondido, umas três vezes, aos transeuntes curiosos da PE-35 à seguinte pergunta: “o motorista morreu?” Sorri e agradeci, de novo, a Deus, por ter preservado essa minha frágil vida.

6.9.06

O desaparecimento de Suzana


Saí pra minha caminhada matinal no parque da Jaqueira, como de costume. Recomendações médicas. Apesar de que o meu problema não era nenhuma questão de saúde grave, e sim, condicionamento físico. Estava cansando muito fácil, e o meu médico sugeriu que eu percorresse 6 Km, todo dia.

Numa dessas caminhadas, no dia do meu aniversário, conheci Suzana. Nossa amizade aconteceu de primeira, ela era uma daquelas pessoas de fácil convivência, sem frescuras e que falava de qualquer assunto. Bem, na verdade os assuntos eram “puxados” por mim, não lembro muito bem que Suzana tivesse iniciado qualquer conversa. Mas isso não importa. Nossa amizade manteve-se inabalada durante um ano. Todo dia nos encontrávamos no portão principal e começávamos os exercícios.

Era meu aniversário, de novo! Não via a hora de encontrar Suzana, chamá-la pra sair e comemorar... estranhamente ela não apareceu. Fiquei indignado, com raiva mesmo. Como uma pessoa tão legal e amiga, deixa de aparecer ao nosso compromisso cotidiano, justo no dia do meu aniversário. Eu falava dessa data há pelo menos um mês. Achava que ela tivesse entendido as minhas indiretas de que iria pedi-la em namoro (antigo, né?) naquela noite.

Já estava na sexta volta pelo parque, quando um moleque chegou junto a mim e me entregou um bilhete que continha os seguintes dizeres:

Av. Beira Mar, 1478 – Aptº 1204 - Boa Viagem.
Você tem que chegar hoje ao meio dia.
Um Beijo, Suzana.

A curiosidade ficou extremamente aguçada. Óbvio que fui correndo pra casa tomar banho e me arrumar para atender ao que dizia o bilhete. Não queria atrasar. Já imaginava que Suzana devesse ter preparado uma festinha surpresa. Às 11:50 cheguei ao endereço especificado, era um desses hotéis “Plaza num sei das quantas em latim”. Quando me dirigia a recepção, fui abordado por uma amiga de Suzana, Clarinha, já as tinha visto papeando na pista de cooper, no aquecimento para as caminhadas.

– Oi, sua suíte já está pronta, quer me acompanhar?

Não disse uma palavra, apenas fiz um sinal de afirmativo. Clarinha me levou até o elevador panorâmico, apertou o 12º andar e me deixou subir sozinho. O apartamento 1204 estava com a porta entreaberta. Bati levemente e fui entrando. Cortinas fechadas, pétalas no chão e velas, muitas velas, daquelas gordinhas, que deixam cheiro de essências no ar.

Essas suítes de luxo têm um problema... são grandes demais, ainda atravessei dois ambientes para chegar à cama. Valeu à pena. Suzana estava lá, linda, camisola de seda novinha, braços abertos, ao seu lado sobre a cama, estavam dois presentes, devidamente embrulhados e etiquetados com os números um e dois. Na sua cintura havia ainda outra etiqueta com um três estampado. Ela me disse que os três presentes eram meus, e que eu deveria abri-los e usá-los na ordem indicada.

A primeira caixa continha em pijama, também de seda, combinando com a sua camisola, e um CK one. Rapidamente, tomei um banho para vestir a indumentária e colocar o perfume. Só então abri a segunda caixa: um pacote de camisinhas e um tubo de KY... a essa altura, a camisola de Suzana já não era mais vista em canto nenhum do Recife e, já que o presente número três estava à minha frente, e suas intenções foram reveladas com o número dois... acredite se quiser, na melhor hora, a campainha tocou:

– Pois não?
– Somos da segurança do hotel e fomos informados que o senhor invadiu esse quarto.
– Deve haver um engano senhores, minha namorada, Suzana fez a reserva e me convidou. Podem perguntar à Clara da recepção...
– Não existe nenhuma Clara na Recepção! Queira nos acompanhar.
– Espere! Suzana, vista-se e venha explicar a esses senhores o que está acontecendo aqui... Suzana? Você está aí?

Procurei-a em todos os cantos do quarto. Como ela passou por nós? O lugar só tinha uma porta e não dava pra sair pela janela no 12º andar... disseram que na fita da segurança do hotel, viram quando eu cheguei e entrei no elevador, sem falar com ninguém. E eu quero deixar registrado, senhor delegado, que roubaram os presentes que ela me deu. Não havia mais nada, nem roupas, nem perfumes, nem pétalas, nada! Só podem ter sido aqueles seguranças. Inclusive, uma recepcionista de lá, disse que me via muito freqüentemente andando sozinho no parque da Jaqueira. Impossível, desde o primeiro mês que só caminho com Suzana...

– Escute aqui! Você foi preso em flagrante por arrombamento do quaro do hotel. Não havia nenhuma Suzana, aliás, não há nenhuma Suzana na sua vida, já investigamos. A ambulância do hospital psiquiátrico já está a caminho para levá-lo e iniciar seu tratamento. Não se preocupe, você vai ficar bem.
– Doutor, é o seguinte: sei que tenho direito a um telefonema, quero fazer uso dele agora...
– Pois não, pode ligar daqui mesmo.
– Alô, Suzana? Você não imagina o que estão dizendo...

4.9.06

19 não é 30


Sandro já passara dos 36 e aquela sensação de que a hora de acomodar sua posição, ante aos rituais e cobranças da sociedade, em que o marido, provedor e detentor das preocupações de sustento e moral da família deve, enfim, assumir seu papel, já estava mais que martelando o seu juízo.

Até aquela altura da vida, o seu maior objetivo era o encarar a próxima farra com mais afinco e insanidade que a anterior. Mas notou, claro, que há algum tempo as companhias femininas do seu caderninho de telefones estavam tornando-se raras:

– Janine, por favor?
– Casou e mudou-se. – Risca essa.
– Karla Maria está?
– Você não soube? Morreu de acidente...
– Esse é o celular de Marília?
– É sim, é o marido del... – (desliga rápido que é bronca).

E assim seus contatos foram ficando cada vez mais escassos, até que ele chegou na letra ‘R’
Entre elas, havia uma cuja companhia, realmente lhe fazia bem: Rosana, morena simpaticíssima, formada em ciência da computação, que além de rir das piadas dele, vez por outra, contava suas próprias... Sandro sentia vontade de estar com ela, uma mulher de 32 anos, madura, de bom papo e mente aberta.

Logo abaixo de Rosana, na agenda telefônica, estava Renatinha, 21 anos, seios fartos, cintura fina... e por aí vai. Mulher desejada por qualquer garotão do bairro, daquelas que param o trânsito e servem, entre outras coisas, pra desfilar à tiracolo. Malhadora, sua rotina se restringia à academia e balada.

A dúvida se estabelecera. Quem chamar para sair, e, quem sabe, programar o fim de semana? A de 21 ou a de 32? Será que a hora de se estabelecer e iniciar um relacionamento mais sério chegara? Sim! Era isso que Sandro buscava. E, nestas circunstâncias, sua escolha foi infinitamente facilitada...

– Alô, Rosana? É Sandro...
– Oi Sandrinho, a quanto tempo. Não me leve a mal, mas eu estava com saudades...

Ganhou o dia, pensou!

P.S.: casaram-se, e até hoje vivem felizes pra sempre.

31.8.06

Briga pra responder ao Ibope


Outro dia, passando pelo centro da cidade, percebi uma aglomeração junto de umas jovens em uma van de um instituto de pesquisa. Até aí tudo bem, pesquisas são feitas a todo instante, a curiosidade foi despertada pelo fato de só haver mulheres na fila, e uma euforia diferentemente intrigante naqueles semblantes. Descobri o que se passava. À frente do veículo, havia uma placa que dizia: “I Pesquisa de Ex-mulheres. Queremos saber o que vocês desejam para os seus ex”.

Parecia que estavam distribuindo dinheiro, a fila não parava de aumentar. Era tanta mulher (ou ex-mulher) querendo fazer parte da estatística, que a certa altura já estavam distribuindo a ficha de perguntas jogando-a para o alto. Foi num desses descuidos que eu consegui “surrupiar” uma. Admito, fiquei curioso em saber como o universo feminino pensa em questões de dissoluções matrimoniais, inclusive, por interesse próprio.

A questão que me chamou mais a atenção foi a 23:

Como você gostaria de encontrar seu ex-marido após 01 (um) ano do divórcio?

a) Na miséria;
b) Na miséria, sem dinheiro para a pensão, sendo assim você o jogaria na cadeia;
c) Na miséria, na cadeia e cego, mas sem cachorro;
d) Na miséria, e levando “gaia”;
e) Todas as alternativas acima, acrescentando-se uma virose por semana.

Fui me esgueirando pelos cantos, bisbilhotando as respostas, e nem preciso dizer qual alternativa era a mais assinalada pelas mulheres que sentavam nos banquinhos da praça. É incrível como 99% das respostas eram a ‘(e)’ (havia uma que marcou ‘(d)’, enganada, e não tinha Erroex).

Sei que nós, homens, não somos, como direi: poços de confiabilidade e de dignidade, mas e os bons momentos? Os filhos, e as experiências de vida que estão incrustadas no nosso ser? A amizade e a cumplicidade que deveriam existir, mesmo em um caso de separação?

“Deixa para lá...” Espero que essa amargura não se estenda ao meu redor: nem pra mim, nem pros meus familiares e amigos que estão na mesma situação. De verdade, desejo que essas fissões sejam resolvidas com cordialidade, amizade e que as disputas maiores não incorram em desafeto, principalmente por causa dos filhos.


P.S.: por enquanto tá tudo bem por aqui.

24.8.06

A retomada das investidas de Glauber Calazans - Final


Glauber aceitou o convite de Clarice e, às 19 horas já a esperava em frente ao seu prédio. Atitude virtuosa pra uns e um defeito grave pra outros: pontualidade. Às vezes, quando marcamos uma determinada hora com alguém, torcemos pra que haja um relativo atraso da pessoa em questão, para dar tempo pro nosso próprio atraso. Aconteceu isso mesmo com Clarice. Às 19:35, quando ela desceu, Glauber já estava quase dormindo no carro.

- Desculpe o atraso?
- Não por isso, sempre me disseram que meu tempo estava em desacordo com o de todos os outros seres.
- Mas no nosso primeiro encontro a sós, eu queria que desse tudo certo.
- Está dando tudo certo... estamos aqui, não é?

Chegando no sushi, os horizontes se abriram. O antes retraído Glauber estava falante e estranhamente extrovertido. Clarice quase não acreditava no que via e perguntou o que acontecera para aquela repentina mudança? Ele respondeu sorrindo e convicto em uma palavra: liberdade!

De madrugada, quando chegou da noitada anterior (balada não era um termo usado por Glauber), refletiu profundamente sobre sua situação... e que situação? Separado, pai de uma garotinha linda, funcionário de uma agência de publicidade, as contas em dia, e triste! Profundamente triste. Essa era a única descrição que ele queria, de verdade, excluir da lista citada. E, Clarice, parecia ser a pessoa certa para este recomeço. Não que se interessasse pela primeira mulher que aparecesse em sua frente, mas algo em seu jeito lhe chamou muita atenção.

O clima estava propício para a conversa, como o sistema no restaurante era rodízio, o tempo sobrava para conversar e rir. Dica: se você tem segundas intenções em relação a alguém, vá comer sushi. Come-se bem, não é caro, e não nos deixa empanzinados, como quem come massas ou carnes. E as segundas intenções, logicamente, já faziam parte do pensamento do casal, desde a outra noite...

Manhã chegando, Glauber acorda em seu quarto, sol na cara. Ao seu lado, Clarice. Ela dorme com as duas mãos embaixo do rosto. Nada de estresse, nada de pressa, nada de coisa alguma, ele a olha e só... como que imaginando que esse seria o seu acordar de toda a eternidade. Gostou disso.

23.8.06

Praias e viagens

Essa história de vida com estrada que só tem praia e cachoeiras deve ser utopia...
por enquanto, vai mais uma música!

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21.8.06

Atendendo Laurinha ...


Que a violência anda descomunal, todos sabem. Mas ações de gente como Laura, que são minoria da população, deixam claro que enquanto existir voz, os verdadeiros responsáveis (políticos) pelas mazelas do país irão ouvir protestos de quem não os engole...

Minha amiga blogueira organizou um movimento contra a violência, que visa disseminar pontos de vistas e/ou protestos dos que movimentam esse mundo cibernético.

Lá vou eu...

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Mini-conto de aflição

Trânsito lento corriqueiro e infernal de sexta às 18:30. Notei a intenção da abordagem, já havia ouvido que aquela área perto da Marinha estava “minada”. Acelerei, sem sucesso...
38 na janela, eram dois pivetes, tão novos e já armados, não havia futuro nos seus olhares.

- Passa o relógio, o celular e a carteira.

Obedece quem tem juízo. Apesar do pouco que tenho, obedeci. O celular era semi-novo, a carteira não tinha muita grana, educados, os treteiros devolveram os documentos. As maiores perdas foram o relógio, e o sossego. No final, “tudo” bem, a vida foi preservada. Aquela mesma vida que passou em minutos ante meus olhos, no breve instante entre a aceleração e a tremedeira.

Os pivetes deram as costas e caminharam normalmente, como se não precisassem de pressa para o próximo assalto. Liguei, dez segundos depois, ainda no local, do meu outro celular para a polícia...

- Acabo de ser assaltado no bairro de Santo Amaro, ainda estou vendo os ladrões, vocês podem mandar uma viatura? (Coletou meus dados, minha descrição dos larápios e do roubo, minha paciência).
- A viatura segue em instantes, senhor.

Meia hora depois eu ligo para saber notícias:

- Dentro de instantes a viatura chegará no local senhor.

Uma hora depois...

- Não foi encontrado ninguém condizente com a descrição, senhor.

Duas semanas sem passar por aquele caminho, mas agora já voltei a fazê-lo. Espero que não aconteça de novo, e que eu não tenha que ligar pra polícia.


P.S.: O assalto aconteceu, a raiva existiu, o medo, principalmente o de morrer, foi grande... podemos rezar para não acontecer de novo e escrever protestos atônitos, enquanto quem manda no país não se preocupa... eles têm seguranças e blindagens no entorno.

16.8.06

Mais música...

Enquanto a busca pela estrela continua, sigo gravando umas canções:

- 2º Sol

15.8.06

A retomada das investidas de Glauber Calazans


Glauber saiu de casa sem muitas pretensões, afinal o estado de recém-separado ainda não lhe era confortável o bastante para se enveredar em busca de uma nova paixão! Só queria sair com os amigos e espairecer um pouco. Marcinho e André o chamaram para ir a um pub novo, desses que têm armadura de templário num canto, escudos nas paredes e um salão com jogo de dardos. Chegaram lá às dez e meia. A indicação foi de André, já que na semana passada tinha se dado muito bem com uma loira falsa na mesma casa. No caso dos dois amigos, nada de excepcional. Eram solteiros e não tinham filhos, mas Glauber tinha um problema sério nas novas conversas com futuras pretendentes: nunca mentia.

As circunstâncias matemáticas favoreceram a paquera dos “cavaleiros”, naquela noite. Duas mesas depois da deles, havia três mulheres aparentando a idade que realmente tinham, entre 30 e 35 anos, e o que é melhor: “dando mole”. Marcinho, mais desenrolado, propôs logo uma abordagem direta, perguntando se poderiam sentar com elas. Glauber nem acreditou, mas as moças toparam, agora devia ser assim a abordagem típica dos adultos. Na “sua época” não era tão fácil... bom, é melhor se adaptar.

Como as três pareciam irmãs ou primas, tal a semelhança física existente, os pares que foram formados aleatoriamente, não deixaram ninguém com a sensação de “perda na negociação”. Em menos de dez minutos, os dois amigos de Glauber já estavam beijando as garotas, enquanto o mesmo só observava, perplexo, aquela cena relâmpago. Não que ele fosse desinteressante. As mulheres até o achavam atraente, mas a falta de prática numa simples paquera, devido ao longo tempo de relacionamento com Mônica, o deixou sem time pra essas investidas.

Na verdade, se não fosse por Clarice (a "parente" que conversava com Glauber), aquela relação teria acabado na mesma noite, porém, ela resolveu investir na árdua tarefa de extrair daquele poço de timidez e insegurança, alguma coisa boa, um “relacionamento", talvez.

No outro dia ela ligou e marcou um jantar em um restaurante japonês, pensando que estimularia o cara a, pelo menos, “comer com os pauzinhos”...

continua...

3.8.06

Aonde se quer chegar? - final

A viagem de ônibus duraria cerca de oito horas. De avião só levaria uma, por isso, durante o embarque fiquei um pouco tenso, imaginando o que aquele número queria dizer. Nessas horas pensamos logo no pior: será que vai cair? Tem alguém da Al Qaeda aqui? O modelo do avião é o Folker-100? Não! É melhor ficar calmo e mentalizar que tudo dará certo!

Minha poltrona era a 28, logo, de acordo com a regra, o número um ainda me perseguia, mas a surpresa maior foi quando descobri a minha parceira de fileira, não que a proporção de mulheres em relação aos homens entre os passageiros fosse desfavorável, muito pelo contrário, mas sentou-se do meu lado a mulher mais charmosa que eu já vira em toda a minha simplória existência. Levei alguns segundos para “arrumar a casa” no cérebro, e conseguir, finalmente, dizer: boa tarde? (quase um tartamudo autêntico)

Ela respondeu com um sorriso, lindo por sinal, bem ao estilo Carmem San Diego das estórias de detetive, e pediu para que eu a ajudasse a colocar a bagagem de mão no porta-malas. Ajudei-a e Prontamente me apresentei, ela também me disse o seu nome: Rayanne.

Sempre tive uma inexplicada predileção pelos de difícil escrita, bastava soar estranho, ou ter impronunciáveis conjunções grafológicas, ou qualquer outro apetrecho “espetaculoso”, e já era um passo rumo à paixão... nesse caso, se seu nome fosse um simples Carla, já seria suficiente, ante a estonteante beleza da referia moça.

Estávamos prontos para decolar e a conversa se desenrolava muito melhor do que eu poderia imaginar. Custei um pouco a acreditar, mas aquela linda mulher estava se deixando envolver pela minha conversa fácil e boba. Com seu ar compenetrado, fingia se interessar pelo meu trabalho e pelas minhas “manias”, além de me contar tudo sobre ela. Diria mesmo que estava pintando um clima favorável, e quando nos demos conta havíamos chegado.

Coincidentemente, iríamos nos hospedar no mesmo hotel em Sergipe, sugeri que fôssemos no mesmo táxi, ela aceitou. Não a deixei “rachar” a conta comigo, claro, afinal, minhas intenções não eram lá das mais inocentes. Chegamos, e marcamos encontro para um drink no saguão do hotel.

Conversa vai e vem, e lá “pras tantas”, resolvi contar-lhe sobre o “caminho numerológico” que eu percorrera até ali, e de como o número mexeu comigo e com minha imaginação. A certa altura da minha revelação. Notei que seu rosto empalidecera ligeiramente, como se eu dissesse algo realmente impressionante. Ela começou a perguntar mais e mais sobre esse lance de números, e se eu achava isso realmente um indicador de rumo a tomar na vida, acho que devido a minha situação de recém-separado e diante da primeira vontade de me envolver de verdade com alguém, não pensei duas vezes, respondi que não tinha nenhuma dúvida de que aquele encontro aconteceria a todo custo, e que achava que dessa vez iria dar certo (sempre achamos isso). Foi então que veio a surpresa maior. Ela levanta, coloca a chave do seu quarto em minha mão e sai apressada em direção ao elevador. Confesso que fiquei meio atônito nessa hora, sem entender muito bem o que acontecera, até que olhei para a chave: quarto 1405.

24.7.06

Enquando a coragem não vem

Quando eu criar coragem, vou gravar uma música minha.
Por enquanto, nesse estúdio improvisado no computador, só dá pra fazer "cover"!

baixe aqui o MP3

P.S.: não escutem muito alto pra assustar menos...

30.6.06

Aonde se quer chegar?

Confesso que iria sair de Recife um tanto eufórico, afinal, nunca estive antes em Aracaju. O embarque estava marcado para as 14:05, por isso almocei cedo naquele dia. Não queria experimentar a aceleração e a inclinação do avião ao alçar vôo com o estômago cheio, talvez por medo de alguma reação indesejada.

É estranho falar em reações. Elas passam tantas vezes desapercebidas, camufladas pelo ritmo acelerado da vida moderna.


Naquela manhã eu tive todas as percepções consideradas “normais” a um ser humano: frio, sono, euforia, medo, enfim. Senti a vida de uma forma seqüencial e um tanto abstrata, coisa que não acontece com freqüência. Por acordar junto com o sol, passei boa parte da manhã sonolento, daquele jeito em que as pálpebras pesam e o corpo todo clama por um canto pra deitar. Terminei de arrumar as malas, com cuidado, afinal, já não tinha quem acertasse esses detalhes por mim. Confesso que não se preocupar com esses pormenores e ter a certeza de que não vai faltar nada na mala, causa um bem-estar reconfortante, mas agora é hora de aprender a “cuidar de mim” (como na música).

Cheguei ao aeroporto duas horas antes do embarque, devido à carona que arranjei com um vizinho. Acho desumanos os preços que cobram no estacionamento desses lugares, por isso não deixei a carro naquele “matadouro”.
Vôos pra Sergipe não são assim tão lotados, e enquanto esperava no salão de embarque, resolvi brincar de observar as pessoas, e tentar adivinhar quais seriam os meus companheiros de vôo. Foi então que as coincidências numéricas começaram, ou melhor, foi então que eu percebi que elas já haviam começado, desde cedo.

O dia era 14 de maio (14/05), o número do vôo era o 1405, pela Varig, acredite, essa empresa ainda voava! Estava programado para às 14:05. Não lembrava muito bem da placa do carro de Cléber, meu vizinho, por isso liguei e perguntei. Primeiro ele brincou, dizendo que não diria a placa do seu carro por que ele mesmo iria jogar “R$ 10,00 na cabeça”, mas em seguida confirmou minha suspeita: KMA 1405.

Corri numa daquelas livrarias de aeroporto e comprei um guia sobre numerologia. Nunca acreditei nessas coisas, porém, diante das quatro coincidências anteriores, não resisti. O livro ensinava que cada algarismo arábico possuía um determinado valor, e que a soma desses números formam outros que são somados novamente, até que se reduza a apenas um. No meu caso os números já apareciam “de cara” (1405), que somados individualmente dão 10 e que somados novamente dá 1, “número que indica o início, aquele a ser seguido”, entre outros significados (definição retirada da Revista dos Números). Fiquei ainda mais intrigado, afinal, iria tomar um avião para uma terra em que eu não conhecia ninguém. Como, pela leitura dos números, eu seria um “líder ou precursor de algo”?

Ao entrar na aeronave, uma outra confluência numérica aconteceu. Éramos 19 passageiros, 14 mulheres e 5 homens (1405), mas o pior ainda iria acontecer...

continua...


5.6.06

O passado chama – Final


Para Robson, nada daquilo fazia sentido, pois sendo mergulhador profissional e contando com a ajuda das mais altas tecnologias para o desempenho de sua função, nunca houvera encontrado sinal algum do naufrágio que seus olhos viam, mas custavam a crer. Como que se indignasse com a descoberta de Ramsés, exclamou:

Não é possível! Eu e meus sócios da escola de mergulho, junto com os biólogos marinhos daqui, já mapeamos todo esse litoral, encontramos 28 naufrágios, e sete sítios arqueológicos, e nunca vimos esses destroços, que, pelo tamanho, não nos escaparia.
– Pois é meu caro Robson, às vezes só vemos aquilo que nos é permitido. Agora vamos resgatar aquela caixa, aquela que está no centro da formação, há respostas para uma vida inteira de perguntas e sofrimentos dentro dela.

Utilizando um braço robô, Robson trouxe a caixa para o compartimento de carga do minisub. Toda a operação não durou mais do que 30 minutos, ratificando as previsões do organizador da expedição, deixando Roberta impressionada com a aventura e intrigada com o real motivo da sua presença ali, já que achara que não contribuíra muito com o “resgate”.

Os três voltaram ao tombadilho do navio antes mesmo dos familiares acordarem, trazendo consigo o artefato que Ramsés não via a hora de abrir para desvendar o mistério de tantos anos. Descobrir o que aquela caixa preta, agora repleta de corais e outras comunidades marinhas incrustadas na sua superfície, lhe traria em sua busca pela paz de espírito que há tanto não tinha.

Os três foram para um setor do navio destinado ao estudo científico de corais e espécimes do mar, onde dispunham de microscópios, sondas e analisadores de compostos que, segundo Ramsés, os ajudariam a identificar as minúcias do achado.

Roberta, cada vez mais preocupada com a verdadeira razão de sua permanência nessa busca de, “nem sei o quê”, quis deixar o grupo e voltar ao seu quarto, quando foi interrompida rapidamente, com a seguinte frase:

– Escute Roberta! Nossas razões são distintas sim, mas você vai querer saber o que há na caixa. – nesse momento, Robson o interrompeu.
– Sr. Ramsés, o equipamento está pronto. Vou começar a abrir o artefato.

Todas as certezas de Ramsés foram confirmadas quando Robson ativou um sistema de garras mecânicas dotado de uma serra hidráulica, para abrir a tal caixa. E o que se seguiu foi uma cena dramática demais para Roberta agüentar. Após se recobrar do desmaio, Ramsés e Robson já estavam separando os ossos das crianças do orfanato recifense, aos quais submetia aos testes do laboratório e etiquetava-os, com nome e sobrenome da época que morreram e, logo abaixo, com outro nome e sobrenome, juntos de uma data de nascimento e morte, algumas muito próximas à data do “acidente”.

O que chamou a atenção de Roberta, foi uma determinada etiqueta que continha seu nome e data de nascimento, era uma das duas que não tinham data de morte, a outra era a de Ramsés. A descoberta a deixou boquiaberta por alguns instantes. Até que as coisas começaram a fazer algum sentido. Nesse momento um arrepio avassalador se abateu sobre o corpo da moça, que, sentando ao lado de Ramsés pediu-lhe, encarecidamente, por explicações.

– Somos nós Roberta! Eu, você e mais alguns dos meninos do orfanato que habitávamos em uma outra encarnação. Tínhamos a promessa de criação na Europa, e fomos levados pelos jesuítas, que organizaram a papelada para adoção. Mas algo deu errado, eles foram emboscados ao chegar nesse ponto do oceano. Foram roubados, mortos e esquartejados. Mas os bandidos encontraram as crianças nos aposentos, colocaram-nas na caixa e atiraram ao mar. Daí em diante todos eles reencarnaram. Eu fui um dos últimos, excetuando-se você. Construímos uma confraria para hoje, infelizmente só hoje, quando todos os outros já estão mortos, descobrirmos a caixa.

Roberta acreditou na explicação de Ramsés, claro. No fundo do seu coração, ela sabia a verdade. A missão do seu amigo estava acabada, mas a dela havia apenas começado Seu dever era encontrar os descendentes (leia-se reencarnados) dos bandidos que cometeram a atrocidade, e então completar seu destino, mostrando-lhes as descobertas e fazer-lhes arrependerem-se do ocorrido.

Milhões de reais estavam depositados em sua conta. Afinal, ela era herdeira moral de todos os companheiros da creche do início do século passado, e deveria usar essa fortuna em dois objetivos: completar sua missão e reiniciar as obras da creche.


P.S.: hoje Roberta é presidente da ONG Deixe Viver. Concluiu sua sina e anda muito feliz por saber do paradeiro de cada um dos seus irmãos. Ramsés faleceu após a ancoragem do navio, mas até então ainda conversa com Roberta e com todos os seus, através das vozes...

27.4.06

O passado chama – Parte III


Na manhã seguinte, o sol se fez brilhar intensamente. Não havia uma nuvem sequer no céu, porém, Ramsés não estava lá muito preocupado com as condições climáticas externas, mesmo porque, sua aventura dali a pouco, juntamente com seus amigos, seria embaixo d’água.

Na noite anterior ele marcou o encontro às 06:15 com Roberta e com o megulhador e piloto do minisub, Robson, no convés, próximo à doca de lançamento do pequeno submarino, e muito antes da hora marcada já estava esperando no local.

Roberta foi dormir morrendo de medo da dita “expedição” que se aproximava, mas, estranhamente, estagnou na cama como uma “pedra” e só conseguiu acordar na hora marcada, porque deixara o despertador do celular ligado no vibra-call, e embaixo do seu travesseiro, por medo que seu marido acordasse e não a deixasse ir. Saiu em silêncio do quarto e na hora combinada estava diante do piloto e do “comandante” da missão. Ramsés perguntou por quê Roberta não contava logo a Mário todo o acontecido? Ela respondeu que não queria ocupar a mente do esposo com essas coisas sobre “vozes do além”, além do mais (desculpem o trocadilho), ele não acreditaria nela mesmo...

Entraram no mini-sub (só cabiam os três mesmo) com a autorização do Capitão, claro. O pretexto utilizado foi o de colher amostras de solo marítimo, já que o navio estava quebrado e que as pesquisas não podiam esperar. Ramsés prometeu voltar antes das 10 horas.

Roberta estava deslumbrada com o mundo subaquático. Nunca imaginou que iria mergulhar em um submarino naquela viagem e em nenhuma outra. Sua atenção estava voltada para a fauna marinha e não cansava de repetir: – “como a água é cristalina”! – Admirando-se, cada vez mais, com os peixes e até com alguns crustáceos que encontrou pelo caminho. Até que os três avistaram uma sombra gigantesca, mais parecida com uma grande ponta de uma lança enterrada no fundo do oceano. Quando Ramsés exclamou:

– Achamos o que viemos buscar!
– o que é Ramsés? – perguntou Robson, ainda curioso, pois o mesmo nunca tinha ouvido voz alguma, só estava ali por causa do submarino, e seu único interesse era a outra metade do pagamento que lhe cabia.
– Calma meu caro... há coisas que você só vai saber quando conseguirmos recuperar a caixa.


continua...

10.4.06

O passado chama – parte II


– Você os viu, Ramsés?
– os tenho visto desde que eu tinha seis anos de idade. Sente um pouco que eu lhe conto toda a estória – sugeriu Ramsés, e, após Roberta sentar, continuou:
– eu nasci em 1936, no dia seis de junho de 1936, para ser mais exato. Cresci em Recife, e fui educado como um menino normal da classe média pernambucana. Ao completar seis anos, meu pai levou toda a família para um cruzeiro em alto-mar, a idéia era fazer uma festa no convés para a comemoração do meu aniversário, junto com o da minha mãe, que seria três dias depois, pois bem. Quando passávamos exatamente neste lugar, – ele sabia disso porque as luzes da cidade de Natal estavam no mesmo ponto do horizonte de antes, – ouvi essas vozes me chamarem pelo nome pela primeira vez!
– É sim, eles me chamaram pelo meu nome, como eles sabem disso?
– Os viajantes do passado, que passam por todos os lugares, inclusive pelo fundo do mar, disseram a eles, se movimentam em certas freqüências de energia, que, por coincidência ou por intervenção, encontra também pessoas como eu e você. Voltemos à estória: naquela viagem os meus pais acharam que eu estava ficando louco. Passei todo o resto do cruzeiro trancado no quarto, mas as vozes não paravam de ecoar na minha cabeça. Imagine o que é para uma criança ficar ouvindo vozes em um quarto escuro, sozinha, enquanto a sua família e seus amigos estavam em uma festa, sem dar a mínima para os sentimentos dela.
– Pôxa, deve ter sido muito ruim para o senhor, não sei como teve coragem de voltar aqui.
– Não é uma questão de coragem Roberta, e sim de destino. Eu e você estávamos predestinados a estar aqui, agora. E não é só isso, quando eu comecei a organizar esse cruzeiro, tive o cuidado de colocar nele pessoas que ajudariam de alguma forma a solucionar esse problema que me atormenta há muitos anos, a me ajudar a completar minha missão.
– Como assim missão? Que pessoas você convidou, e porquê ninguém mais ouviu as vozes?
– Durante o restante da minha vida, estudei os fenômenos psíquicos e sensoriais que me pareciam ser a causa da aparição dessas vozes. Fiz faculdade de medicina e me tornei um psiquiatra conhecido nacionalmente, porém, minha única intenção durante esse tempo todo foi descobrir o verdadeiro significado desse chamado. Passei várias vezes nesse local desde então, tenho meu próprio barco e já perdi a conta de quantas noites passei ancorado nesse mesmo ponto onde estamos, tentando descobrir porquê eles falam comigo exatamente aqui. Até que chegou o dia em que reuni a equipe ideal, depois de tantas que falharam, para tal merecimento. Dentro de alguns segundos o navio deve parar com um suposto defeito no motor. Tudo já foi, devidamente acertado para que tenhamos 24 horas para descobrirmos, de fato, o que aconteceu aqui no passado.

Mal Ramsés acabou de falar, ouviu-se um barulho vindo do interior do navio e logo em seguida, pelo sistema de alto-falantes da embarcação, o comandante avisava que houvera um problema entre o motor e o sistema de transmissão de força do navio, e que eles iriam ancorar ali mesmo naquela noite, mas, que os devidos consertos já estavam sendo providenciados. Ramsés continuou a conversa com Roberta, falando sobre os procedimentos para o outro dia e o quanto seria importante a sua colaboração, assim como a dos outros “convidados”:

– Bem, Roberta, hoje não poderemos fazer mais nada, mas amanhã teremos a ajuda de um especialista em mergulho, Robson, para chegarmos até o fundo desse mistério, literalmente falando. Ele tem um mini-sub no compartimento de carga e já estamos acertados para descer. Ainda há uma vaga guardada para você.
– E se eu não quiser ir?
– Sim Roberta, você tem esse direito, mas se queres um conselho, ajude-me a resolver esse enigma, pois essas vozes são insistentes, e eu acho que vão ficar falando com você por muitos e muitos anos, chamando você, pedindo a sua ajuda, assim como fizeram comigo. Tem mais uma coisa que você precisa saber: as vozes são de crianças de um orfanato do Recife, que foram levadas por padres portugueses no início desse século, e que deveriam ter sido adotadas por famílias européias que não conseguiam ter filhos. Depois da saída do navio do cais do porto, nunca mais ninguém teve notícias delas...

Foram dormir, se é que alguém pode dormir com uma tensão dessas...

Continua...

5.4.06

O passado chama


O casal era bem relacionado. Ele, Mário, vivia com muitas atribuições profissionais. Essas pessoas que trabalham na bolsa de valores são assim... logo cedo já começam a gritar, literalmente, ao telefone, e o que é pior: sofrem pressão “monetária”, afinal, se movimentar o nosso pouco dinheiro já é um estresse, imaginem lidar com os milhões dos outros, triplica a responsabilidade.

Ela, Roberta, também levava uma vida de correrias. Como professora municipal, não sobrava muito tempo para o descanso merecido. Trabalhava em duas escolas, afinal, o orçamento familiar e sua independência financeira do marido dependiam do seu próprio esforço, sem falar na dureza que é lidar com o fator humano, principalmente crianças, todos os dias.

Apesar de todo esse esforço semanal, os dois ainda arranjavam tempo livre, inclusive nos finais de semana, para participar de programas de voluntariado, como o Amigos da Escola ou o de apoio ao Hospital do Câncer. E foi num desses trabalhos voluntários que conheceram Ramsés, um senhor simpático, praticante do espiritismo, de boa índole e excelente visão altruísta. Ele disse que estava organizando um cruzeiro marítimo pelo litoral nordestino, tendo como saída, Salvador, e como ponto extremo, Fernando de Noronha. O embarque estava previsto para dali a quatro semanas.

Nos outros três finais de semana que se encontraram, Ramsés insistira muito, principalmente com Roberta, para que o casal desfrutasse um pouco da vida terrena, que se divertisse e esquecesse o ritmo frenético dos expedientes obrigatórios. Ele insistiu tanto para que fossem ao cruzeiro que Roberta conseguiu convencer Mário, afinal, Ramsés já havia até conseguido um desconto de 50% nas suas passagens, com o argumento que o embarque não seria no início da viagem, em Salvador, mas na primeira parada.

No domingo à tarde do final de semana seguinte, malas prontas, dirigiram-se ao porto do Recife, onde iriam interceptar o navio e embarcar na primeira classe, afinal, com o desconto conseguido dava para usufruir das melhores acomodações. Festa na saída e choro dos familiares que acenavam com lenços brancos, bem ao estilo “Terra Nostra”.

No início, a viagem transcorreu naturalmente, com os enjôos normais que assolam mesmo os “marinheiros iniciantes”, mas nada que um Dramin não resolvesse. Roberta e Mário estavam felizes e receptivos a novas amizades, e foi isso mesmo que fizeram, conheceram a família de Ramsés e logo se sentiram à vontade, como se fizessem parte dela. Na segunda noite do cruzeiro, ao passar a mais ou menos 50 milhas náuticas de Natal, Roberta sentiu um arrepio na espinha, bem na hora do jantar (sabe como são esses jantares de navio? Todos no restaurante principal e absolutamente ninguém no tombadilho), claro, a comida é de primeira e ninguém queria perder os shows programados para aquela noite, logo depois, ouviu seu nome sendo chamado através da porta lateral do convés, próximo à sua mesa.

– Roberta, precisamos de você! – disseram.
– Mário, você ouviu isso?
– Ouvi o quê Roberta, tem tanta gente falando?
– Essa voz de criança me chamando, não ouviu?
– Acho melhor você dar um tempinho nesse champanhe, toma uma coca.
– Não Mário, eu ouvi sim, vamos ver quem é?
– Eu sem quem é Roberta, é sua imaginação.

Roberta levantou-se e saiu pela porta de onde ouvira a voz, andou pela lateral do navio, com passos lentos e tentando não fazer barulho com seu salto alto, até que na proa oeste, onde se obtia uma vista privilegiada das luzes do litoral do Rio Grande do Norte, encontrou Ramsés, imóvel, com um olhar fixo para a base do casco, como se procurasse ver algo entre as marolas formadas pelo deslocamento da água. Roberta mal chegou a dizer algo a ele, e,. sem olhar para trás, indagou:

– são as vozes, não são?

Nesse momento, Roberta ouviu a voz de novo, agora mais alta, como que viesse da direção que seu amigo olhava, dessa vez com a seguinte mensagem:

– Roberta, precisamos de ajuda... os padres!


Continua...

28.3.06

Divagações sobre matéria, antimatéria e crenças religiosas

Excetuando-se a classe atéia da sociedade organizada, aqueles que “acreditam”, antagonicamente – porque acreditar não é a desses caras –, que a geração da primeira forma de vida tenha sido espontânea, ao acaso, e que nada existia antes disso. Todos nós, não-excluídos anteriormente, temos uma crença, esteja ela sob o enfoque religioso, científico ou outro qualquer. Acreditamos que algo maior, infinitamente incompreensível, criou a vida e depositou suas esperanças no nosso contínuo crescimento, caso contrário nossa existência seria invalidada.

O interessante em filosofar sobre as questões do essencialismo, é a possibilidade de comparar, com um ar de aprofundamento, as questões da “alma/espírito/energia” que há milênios recai sobre as mentes dos nossos iguais. E, em contraponto ao existencialismo, tentar prover “soluções” e contemplar visões de ângulos intrigantes e, às vezes, engraçados dessa busca, quase sempre organizada e convincente.

Nesse contexto acompanhei a conversa entre Gladson, Xiga e Barroso. Que são figuras conhecidamente “viajadas” em questões de dogmas e doutrinas inerentes, sendo que, este último, um cientista inveterado e atuante, coleciona títulos literários e o reconhecimento da sociedade científica pelos seus trabalhos que explicam, sem impor posições, seus conceitos para uma compreensão das evidências, ou não-evidências, dos fenômenos visíveis, ou invisíveis, do mundo, em uma linguagem que consegue exemplificar seu conteúdo, através de comparações diretas e de fácil assimilação.

De modo muitíssimo diferente pensa Xiga, que apesar de tentar seguir a doutrina do Dalai Lama à risca, não conseguia transmitir os ensinamentos buditas como pretendia, pelo menos àquela mesa, apesar das inúmeras tentativas. Talvez devido à complexidade da metodologia oriental incrustada nas entrelinhas dos escritos que lia e, ele mesmo, podia até assimilá-la, porém a transmissão do pensamento era outra estória.

Fiquei no meu canto, sentado à mesa ao lado da deles, não queria ficar escutando (talvez), mas também não pude me afastar por uma questão de disciplina, afinal estávamos num almoço em homenagem a uma pessoa muito especial para as causas humanitárias aqui do Recife, e não ficaria bem trocar a posição cuidadosamente decorada com plaquinha e tudo.

A discussão sobre o início da existência estava esquentando, e Gladson continuava insistindo que, quando Adão surgiu, já existiam todos os animais e “coisas” na terra, criados em seis dias, exceto a mulher, que foi concebida da sua costela para lhe fazer “companhia”. O incrível era a paciência com que os outros “debatedores” o escutavam, ao final de sua fala, retomavam as explicações sobre energia cósmica, matéria e antimatéria, existência cíclica e reencarnação.

O almoço foi se prolongando, até que chegou um instante em que todos os convidados faziam um grande círculo em volta da mesa dos protagonistas, inclusive o homenageado, que desistiu de fazer seu discurso de agradecimento, em prol da ouvidoria vespertina. Àquela altura, Gladson já havia deixado o recinto, indignado pela contestação de alguns dos ouvintes, que repudiavam alguns de seus conceitos com um burburinho irritante e alguns ensaios de vaias, e, numa demonstração de impaciência própria de quem não atingiu o estado de conscientização de que as diferenças existem e devem ser respeitadas, saiu “chutando o pau da barraca”, e mandando todo mundo pro inferno, leteralmente.

Após a meia-noite, resolvi que já houvera colhido material suficiente para meditações e confronto de raciocínios para mais duas vidas, pelo menos. Além de ter certeza de que aquela “conversa” não seria terminada nessa existência. Valeu a diplomacia e a cordialidade que os debatedores se trataram, e espero poder absorver uma fração de suas palavras, visando, egoisticamente, o meu crescimento científico/espiritual.

P.S.: os caminhos são variados, mas o objetivo é o mesmo: paz!

16.3.06

O Céu está perto?

Ninguém sabe ao certo quando ocorreu o desvio na criação católica que Carlinhos recebeu dos seus pais. Talvez os valores demonstrados em relação ao amor e à amizade tenham sido absorvidos em parte, porém, quando se tratava de assuntos monetários, o que se via era um menino que negociava até os centavos para levar vantagem em tudo, sempre!

Quando tinha quatro anos ele contabilizava em quantas lambidas um pirulito acabava, para cobrar proporcionalmente aos coleguinhas do jardim da infância. Exigiu do pai uma caderneta de poupança aos seis anos de idade, e até bom dia o garoto queria cobrar aos tios para encher seu “cofrinho”! Por isso que ninguém estranhou quando, aos 11 anos, ele pediu R$ 50,00 para fazer a declaração do imposto de renda pela de sua avó, pela internet. Ainda teve gente que achou esse ato “bonitinho”!

O que ninguém esperava, era que sua opção para a universidade tivesse sido Assistência Social, e não Economia ou Direito, como todos pensavam, inclusive os macumbeiros e jogadores de búzios, que disseram o mesmo que os testes vocacionais revelaram: Economia (1ª opção), Direito (2ª).

Mais tarde, depois das solenidades de formatura, Carlos sumiu. Nem no Orkut ou no MSN sabiam dele. Marcamos várias e várias reuniões de ex-alunos do terceiro ano, mas as cartas e recados que chegavam à sua família não geravam resposta, era como se a própria família quisesse o esconder.

Hoje fui procurado por um assessor de um candidato a prefeito de Buíque, cidade do sertão pernambucano, que pediu orçamento para a criação da campanha do pastor Carlinhos para as próximas eleições. Quando dei uma olhada no material fotográfico para a campanha, tudo se esclareceu. Reencontrei o meu velho amigo Carlos e as coisas se encaixaram como tinham de ser...

Os anos de preocupações monetárias na infância, lhe renderam subsídios para a criação da Igreja da Renovação Evangélica Cristã, nas cidades interioranas, e o curso de Assistência Social lhe garantiu o cunho social necessário para o desenvolvimento do bom caráter político, espero.

Não aceitei fazer a campanha do meu “amigo” pastor Carlinhos, mesmo porque ele queria pagar a criação e produção das peças publicitárias com uma vaguinha no Céu... desse jeito não dá Carlinhos! Que você seja pastor, político, policial ou advogado, mas que considere a possibilidade de crescimento das outras pessoas ao seu redor, e preocupe-se também com o seu futuro, com suas ações, e cuidado com o “lado negro da força”!

13.3.06

Correntes e correntezas

Nunca gostei de correntes, na verdade me considero (ou considerava) o maior quebrador delas. Nunca as repassava porque sempre achava que o que pediam era, no mínimo, inusitado demais para uma sã consciência aceitar, não que a minha seja sã...

Talvez a maneira como foi escrita, ou o conteúdo, que à primeira vista me pareceu estranho, até eu pensar um pouco e tirar minhas próprias conclusões sobre algumas das minhas atitudes. Será que sou “maníaco”?

Manias


Post publicado seguindo a corrente de manias, mandada pra mim por Ana, do blog
Roccana!

Regras: "Cada bloguista participante tem de enumerar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que o diferenciem do comum dos mortais. E, além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogs aviso do 'recrutamento'. Ademais, cada participante deve reproduzir este 'regulamento' no seu blog".

Lá vai...


1. Tenho mania de puxar a calca comprida, na altura da coxa direita, toda vez que, ao dirigir, passo a quarta marcha. Talvez alguns considerem essa reação um TOC (transtorno obsessivo compulsivo) ou outra loucura qualquer, mas, devido à inofensividade da ação, considero-a apenas uma desobstrução da carga de tensão que é formada a partir da fricção entre a pele e o jeans (na maioria dos casos).

2. Assobiar chamando o vento quando o calor está assolando e o “tempo está parado”, sem nem uma brisa pra refrescar. O pior é que o danado vem mesmo, pelo menos tem sido assim nas últimas tentativas. Nunca li nada de Paulo Coelho, mas em uma entrevista à Regina Casé, ele disse que chamaria o vento, olhou pra trás, balançou a mão e as árvores, antes imóveis, foram assoladas por uma ventania nível F3 (twister, lembra?). Se não foi edição da Globo, é bom passar a considerar a possibilidade do controle mental sobre as sensações e intempéries que nos cercam. Talvez eu leia algo do referido autor, no futuro.

3. Estalar os dedos quando o DVD trava, geralmente em um momento crítico do filme, certo de que com o estalo o arranhão na mídia irá desaparecer momentaneamente, e finalmente conseguirei assistir ao desfecho. Na maioria das vezes tenho que assistir ao final no computador, porquê o leitor de DVD de lá é mais “rochedo”.

4. Mentalizar a mudança da cor do sinal de trânsito para verde, quando me aproximo com ele ainda no vermelho. P.S.: nunca dá certo.

5. Mania de não perder uma deixa (sem comentários).

P.S.: assim me despeço das correntes e jogo a “batata quente” para meus amigos blogueiros a seguir, segundo a regra:

Convido os seguintes blogueiros a aderirem à brincadeira:

Brisa


Claudia Perotti

Estuário

Só Pensamentos

A Vida em Movimento


22.2.06

PernamCubanos

Nunca fui muito “cabeça”, apesar de me considerar “meio intelectual, meio de esquerda”. Mesmo assim resolvi ir a uma mostra de vídeo intitulado: “Desde Cuba hasta Pernambuco”, de Erasto Vasconcelos, que enfocava a musicalidade cubana em contraponto com a sua religião, estabelecendo parâmetros de inevitável comparação com nossa diversificação cultural.

Tanto em Cuba, quanto aqui, a cultura parece estar catalogada no cérebro das pessoas, bastando um estímulo externo para dar início a uma apresentação de dança, uma composição musical ou qualquer outra forma de demonstração inerente às maneiras de imposição das nossas raízes.

O povo cubano (apesar do sofrimento que passou e passa há décadas, causado por um regime antidemocrático imposto à custa de sangue e castrações), deixa aflorar musicalidade por seus poros. Isso foi muito bem retratado no documentário supra citado, cujo duas passagens chamaram a minha atenção e as descreverei:

A música acima da logística

A música cubana é destilada de uma mistura de culturas. Ela chegou com as caravelas e se aqueceu com o mar caribenho, produzindo o balanço ao ponto, ou, como diria Spinelli: “al dente”. Apesar do embargo que o mundo capitalista impõe, que acarreta desde a falta de recursos em equipamentos e a quase inexistência de instrumentos modernos e baratos, até a escassez de materiais de consumo quase que indispensáveis para a execução sonora. Digo “quase”, porque no vídeo em questão, o fato inusitado foi a gravação de uma banda cubana tocando com os instrumentos “desfalcados”, tinha até violão faltando cordas. Mesmo assim, o áudio era de primeira, com sincronismos e cumplicidades notórias e notáveis entre seus integrantes.

A fuga do sorriso

O outro fato intrigante está relacionado à expressão nos rostos, nos olhares e na postura dos “documentados”. Música alegre, calor, energia quase que esotérica, e o povo (pelo menos a maioria dele) demonstrava feições e gestos sérios, não exatamente ríspidos ou carrancudos, mas que chegavam a ser angustiantes.

Qual será o motivo do não sorrir? Concentração? Havia uma sintonia muito clara entre a música e a religiosidade, e como essa segunda é tratada com o devido respeito, talvez seja essa a razão da seriedade, não sei! Espero que não seja por dor ou por mágoa da vida...

Nós daqui do Brasil, também somos um povo que passou e passa por muitas dificuldades, não preciso nem enumerar... mas, apesar das semelhanças culturais e até de ginga com os cubanos, ainda conseguimos sorrir, e muito! Talvez sejamos um povo meio “porra louca” mesmo, ou talvez estejamos acima do sofrimento, galgando nossa elevação.

P.S.: Acho sim os dois povos parecidos. Gostaria de ir à Cuba qualquer dia desses...

14.2.06

Era uma vez, certa timidez...

Rui era reservado. O mais reservado possível. Não sei como ele conseguira alugar aquele apartamento no bairro da Encruzilhada com toda aquela timidez! Apesar de morarmos no mesmo prédio há cinco anos, nunca o vimos por completo, no máximo conseguíamos enxergar rapidamente sua mão ao receber alguma encomenda. Soubemos o seu nome pela relação de aniversariantes do condomínio – 06 de abril –. No do ano passado tentamos uma aproximação, sabe como é? Somos vizinhos de porta com porta e NUNCA nos falamos, parece que ele espera todo mundo sair para deixar seu refúgio... Tati fez uma torta de morango e eu comprei umas velinhas, 33 ao certo. Sabíamos que estava acordado, mas depois de meia hora tocando a campainha, desistimos.

Como médico por formação, senti-me na obrigação de “ajudar” aquele ser enigmático, ainda mais tendo optado pela especialização em psicanálise, na eterna busca em entender os percalços da natureza humana. Confesso que tive um certo teor de egoísmo nesta empreitada em solucionar o problema do meu vizinho, claro! Minha tese para o mestrado poderia sair daquele paciente em potencial!

Eu nunca poderia imaginar que o desfecho dessa história seria trágico! Logo com ele, um cara que nunca tinha nem falado comigo, nem com Tati, pelo menos era o que eu pensava seu delegado! O senhor pode imaginar a minha surpresa ao chegar em casa e ver minha esposa atracada no tapete da sala com um homem? Pensei... ou é assalto ou é gaia! E em ambos os casos, tenho certeza, sua reação seria a mesma que eu tive. Peguei o taco de beisebol, o mesmo que Tati me deu para a fantasia do carnaval passado, e desferi os golpes no individuo. Sinceramente, só estou sabendo que foram 38 porque o senhor me contou.

Por outro lado, sei que devia ter pedido alguma explicação a Tati antes de acertar a sua cabeça, mas sabe como é doutor? Contra imagens não há argumentos, e o que eu vi me pareceu muito evidente. Aquele sorriso no seu rosto me deixou profundamente perturbado.

Imagino que o senhor está pensando que foi crime com premeditação, não é? Mas saiba que eu sempre fui da paz, até pedágio em sinais de trânsito para campanha do quilo eu já fiz. Por isso seu delegado, peço-lhe encarecidamente: fale com esse juiz e peça pra ele reconsiderar... já tenho 35 e com os 65 da pena que ele me deu, nunca mais vou ver minhas criancinhas. É certo que ainda não as tenho, mas gostaria de tentar outro relacionamento quando sair da prisão, e com 100 anos, definitivamente, não dá!


P.S.: foi só uma historinha para a volta das férias. Abraços a todos.

3.1.06

O redondo não!

Passei algum tempo sem relógio de pulso (engraçado, né? Tempo, sem relógio?). Desde que um rapaz, educadamente, bateu com o cano do seu 38 contra o vidro do carro, dizendo: – “passa o redondo”. Não! Não era nenhum pedido libidinoso, estava se referindo ao relógio de pulso. Ah! E à carteira, o celular e o que mais estivesse “de bobeira”.

Fora o choque causado pelo ato violento, o assalto em si, ficou aquela sensação de segurança quebrada, de que você está indefeso contra o sistema, que dá “poder” aos que possuem armas, para tirar a vida do semelhante.

Fiquei muito tempo sem relógio de pulso. O celular teve que ser reposto imediatamente, claro, dependia dele para o trabalho, mas o relógio... talvez tenha sido o trauma e a indisposição para comprar outro daqueles. Passaria até mais alguns meses sem relógio, mas decidi comprar um desses que vendem na esquina! Perguntei ao ambulante: – e a garantia? – Claro que ele me respondeu sorrindo: – “soy yo!" Na outra semana entendi o porquê do sorriso irônico, havia água saindo por todos os “poros” do instrumento medidor de tempo, ao qual o vendedor chamou de relógio, e olhe que eu só mergulhei em uma banheira!

Não desisti! Procurei outro, em um camelô mais requintado, esse tinha até uma placa neon que dizia “CONCERTO E PECAS”, com todas as letras (e/ou suas permutas)! Estranhamente senti credibilidade no comerciante e comprei um substituto para aquele anterior, o do Aquaman, lembra?. O novo era até simpático! gostava dele, combinava com minhas roupas, mas aconteceu uma sauna... isso mesmo, daquelas bem quentes! Havia a inscrição “water resistent”, mas ninguém me falou nada sobre saunas. Depois da sauna, nunca mais foi o mesmo, apesar da troca da pilha e do uso do secador de cabelo para evaporar as gotículas entranhadas no mecanismo.

Ainda houve outro, depois do “termo sensível”, mas este não durou mais que dois meses, problema de “junta”. Resolvi ficar sem relógio de pulso mesmo. Não tinha pretensão alguma de extinguir as horas da minha rotina, mesmo porque, elas estão presentes na vida, em mais lugares que imaginamos: no celular, no carro, no microondas, no computador, e até na marquise do prédio que fica em frente ao meu estacionamento, além de todos os compromissos que marcamos.

Todos temos horários, óbvio! São importantes para o sincronismo nas relações. Imagine que você marca um encontro com aquela gata que todo mundo já convidou pra sair, mas ela só aceitou o seu convite, e, por uma inexistência de responsabilidade horária, você só chega no bar muito mais tarde, e ainda descobre que ela saiu com o Gaudêncio (advogado), aquele cara chato da repartição, que entende “de merda a foguete”, e que vai passar o resto da vida dando um tapinha nas suas costas e dizendo: –“podia ter sido você! He, he, he...”.

P.S.: melhor comprar um relógio decente... e espero que não me peçam “o redondo” de novo!!!