28.3.06

Divagações sobre matéria, antimatéria e crenças religiosas

Excetuando-se a classe atéia da sociedade organizada, aqueles que “acreditam”, antagonicamente – porque acreditar não é a desses caras –, que a geração da primeira forma de vida tenha sido espontânea, ao acaso, e que nada existia antes disso. Todos nós, não-excluídos anteriormente, temos uma crença, esteja ela sob o enfoque religioso, científico ou outro qualquer. Acreditamos que algo maior, infinitamente incompreensível, criou a vida e depositou suas esperanças no nosso contínuo crescimento, caso contrário nossa existência seria invalidada.

O interessante em filosofar sobre as questões do essencialismo, é a possibilidade de comparar, com um ar de aprofundamento, as questões da “alma/espírito/energia” que há milênios recai sobre as mentes dos nossos iguais. E, em contraponto ao existencialismo, tentar prover “soluções” e contemplar visões de ângulos intrigantes e, às vezes, engraçados dessa busca, quase sempre organizada e convincente.

Nesse contexto acompanhei a conversa entre Gladson, Xiga e Barroso. Que são figuras conhecidamente “viajadas” em questões de dogmas e doutrinas inerentes, sendo que, este último, um cientista inveterado e atuante, coleciona títulos literários e o reconhecimento da sociedade científica pelos seus trabalhos que explicam, sem impor posições, seus conceitos para uma compreensão das evidências, ou não-evidências, dos fenômenos visíveis, ou invisíveis, do mundo, em uma linguagem que consegue exemplificar seu conteúdo, através de comparações diretas e de fácil assimilação.

De modo muitíssimo diferente pensa Xiga, que apesar de tentar seguir a doutrina do Dalai Lama à risca, não conseguia transmitir os ensinamentos buditas como pretendia, pelo menos àquela mesa, apesar das inúmeras tentativas. Talvez devido à complexidade da metodologia oriental incrustada nas entrelinhas dos escritos que lia e, ele mesmo, podia até assimilá-la, porém a transmissão do pensamento era outra estória.

Fiquei no meu canto, sentado à mesa ao lado da deles, não queria ficar escutando (talvez), mas também não pude me afastar por uma questão de disciplina, afinal estávamos num almoço em homenagem a uma pessoa muito especial para as causas humanitárias aqui do Recife, e não ficaria bem trocar a posição cuidadosamente decorada com plaquinha e tudo.

A discussão sobre o início da existência estava esquentando, e Gladson continuava insistindo que, quando Adão surgiu, já existiam todos os animais e “coisas” na terra, criados em seis dias, exceto a mulher, que foi concebida da sua costela para lhe fazer “companhia”. O incrível era a paciência com que os outros “debatedores” o escutavam, ao final de sua fala, retomavam as explicações sobre energia cósmica, matéria e antimatéria, existência cíclica e reencarnação.

O almoço foi se prolongando, até que chegou um instante em que todos os convidados faziam um grande círculo em volta da mesa dos protagonistas, inclusive o homenageado, que desistiu de fazer seu discurso de agradecimento, em prol da ouvidoria vespertina. Àquela altura, Gladson já havia deixado o recinto, indignado pela contestação de alguns dos ouvintes, que repudiavam alguns de seus conceitos com um burburinho irritante e alguns ensaios de vaias, e, numa demonstração de impaciência própria de quem não atingiu o estado de conscientização de que as diferenças existem e devem ser respeitadas, saiu “chutando o pau da barraca”, e mandando todo mundo pro inferno, leteralmente.

Após a meia-noite, resolvi que já houvera colhido material suficiente para meditações e confronto de raciocínios para mais duas vidas, pelo menos. Além de ter certeza de que aquela “conversa” não seria terminada nessa existência. Valeu a diplomacia e a cordialidade que os debatedores se trataram, e espero poder absorver uma fração de suas palavras, visando, egoisticamente, o meu crescimento científico/espiritual.

P.S.: os caminhos são variados, mas o objetivo é o mesmo: paz!

2 comentários:

Mack disse...

Quem disse que não sou um pedaço de tua costela?
Quem disse que não nasci de ti, tal como para ti ando vivendo e a ti irei encontrar na eternidade?

Sim. A eternidade... De onde já viemos e para onde, eu sei, seguiremos de mãos dadas.

Um beijo,
amor da(s) minha(s) vida(s)!

Anônimo disse...

oi, primeiro obrigada pela visita no meu blog e segundo parabéns pelo seu e pelo texto acima. Gostei do seu jeito de escrever. Bom demais.
abraços
http://carla-feitosa.blog.uol.com.br/