10.4.06

O passado chama – parte II


– Você os viu, Ramsés?
– os tenho visto desde que eu tinha seis anos de idade. Sente um pouco que eu lhe conto toda a estória – sugeriu Ramsés, e, após Roberta sentar, continuou:
– eu nasci em 1936, no dia seis de junho de 1936, para ser mais exato. Cresci em Recife, e fui educado como um menino normal da classe média pernambucana. Ao completar seis anos, meu pai levou toda a família para um cruzeiro em alto-mar, a idéia era fazer uma festa no convés para a comemoração do meu aniversário, junto com o da minha mãe, que seria três dias depois, pois bem. Quando passávamos exatamente neste lugar, – ele sabia disso porque as luzes da cidade de Natal estavam no mesmo ponto do horizonte de antes, – ouvi essas vozes me chamarem pelo nome pela primeira vez!
– É sim, eles me chamaram pelo meu nome, como eles sabem disso?
– Os viajantes do passado, que passam por todos os lugares, inclusive pelo fundo do mar, disseram a eles, se movimentam em certas freqüências de energia, que, por coincidência ou por intervenção, encontra também pessoas como eu e você. Voltemos à estória: naquela viagem os meus pais acharam que eu estava ficando louco. Passei todo o resto do cruzeiro trancado no quarto, mas as vozes não paravam de ecoar na minha cabeça. Imagine o que é para uma criança ficar ouvindo vozes em um quarto escuro, sozinha, enquanto a sua família e seus amigos estavam em uma festa, sem dar a mínima para os sentimentos dela.
– Pôxa, deve ter sido muito ruim para o senhor, não sei como teve coragem de voltar aqui.
– Não é uma questão de coragem Roberta, e sim de destino. Eu e você estávamos predestinados a estar aqui, agora. E não é só isso, quando eu comecei a organizar esse cruzeiro, tive o cuidado de colocar nele pessoas que ajudariam de alguma forma a solucionar esse problema que me atormenta há muitos anos, a me ajudar a completar minha missão.
– Como assim missão? Que pessoas você convidou, e porquê ninguém mais ouviu as vozes?
– Durante o restante da minha vida, estudei os fenômenos psíquicos e sensoriais que me pareciam ser a causa da aparição dessas vozes. Fiz faculdade de medicina e me tornei um psiquiatra conhecido nacionalmente, porém, minha única intenção durante esse tempo todo foi descobrir o verdadeiro significado desse chamado. Passei várias vezes nesse local desde então, tenho meu próprio barco e já perdi a conta de quantas noites passei ancorado nesse mesmo ponto onde estamos, tentando descobrir porquê eles falam comigo exatamente aqui. Até que chegou o dia em que reuni a equipe ideal, depois de tantas que falharam, para tal merecimento. Dentro de alguns segundos o navio deve parar com um suposto defeito no motor. Tudo já foi, devidamente acertado para que tenhamos 24 horas para descobrirmos, de fato, o que aconteceu aqui no passado.

Mal Ramsés acabou de falar, ouviu-se um barulho vindo do interior do navio e logo em seguida, pelo sistema de alto-falantes da embarcação, o comandante avisava que houvera um problema entre o motor e o sistema de transmissão de força do navio, e que eles iriam ancorar ali mesmo naquela noite, mas, que os devidos consertos já estavam sendo providenciados. Ramsés continuou a conversa com Roberta, falando sobre os procedimentos para o outro dia e o quanto seria importante a sua colaboração, assim como a dos outros “convidados”:

– Bem, Roberta, hoje não poderemos fazer mais nada, mas amanhã teremos a ajuda de um especialista em mergulho, Robson, para chegarmos até o fundo desse mistério, literalmente falando. Ele tem um mini-sub no compartimento de carga e já estamos acertados para descer. Ainda há uma vaga guardada para você.
– E se eu não quiser ir?
– Sim Roberta, você tem esse direito, mas se queres um conselho, ajude-me a resolver esse enigma, pois essas vozes são insistentes, e eu acho que vão ficar falando com você por muitos e muitos anos, chamando você, pedindo a sua ajuda, assim como fizeram comigo. Tem mais uma coisa que você precisa saber: as vozes são de crianças de um orfanato do Recife, que foram levadas por padres portugueses no início desse século, e que deveriam ter sido adotadas por famílias européias que não conseguiam ter filhos. Depois da saída do navio do cais do porto, nunca mais ninguém teve notícias delas...

Foram dormir, se é que alguém pode dormir com uma tensão dessas...

Continua...

3 comentários:

Lolla disse...

muito bom. aliás, todos que eu li são ótimos!

SACANITAS disse...

agora eu tmb nao vou dormir esperando a continuacao... :)

bjocas!!!

Monica True disse...

Desculpa a demora.. nao tenho estado muito bem de saúde e eocupada com outras coisas..
Nao o desenho do lay do meu blogger nao é meu e nem sei quem possa ser o autor.. eu faço parte de um grupo de troca de imagens do yahoo e através desse grupo recebo a gde parte de material usado pra fazer os meus lays..
Agradeço a visita e aproveito para desejar uma Feliz Páscoa! beijocas