5.12.10

Baixa do Cantagalo

Morar em casa tem inúmeras vantagens, já sabemos, mas também tem muitas desvantagens.

Meu pai é meu vizinho, e velho (que ele não ouça) é cheio das invenções e manias, a do meu pai é criar bicho: cachorro, calopsitas, patos, galinhas e um galo!

Ô galinho desregrado. Apesar de ser biólogo de formação e só de formação, não sei se todo galo é assim, mas o meu vizinho é completamente maluco. Eu achava que o galo cantava ao alvorecer, pra, poeticamente, saudar o Sol e impressionar a galinha “có… có… como esse galo acorda cedo…”.

Porra nenhuma! O galo canta o tempo todo. Noutro dia cheguei de uma farra às três da matina e o bicho já tava cantando. Fui dormir e o safado cantando. Às sete horas o maluco cantando. Às dez, dez e 15, 11 e 27… mais cantoria.

Comecei uma campanha, como quem não quer nada, para a eliminação do pavarotti Galinaceus:

- Pai, nunca mais fizesse uma cabidela?

O ego da gente não resiste a um apelo como esse do filhão, não é? No outro dia, sabadão, tava lavando o carro quando meu pai chama pela garagem: “o almoço hoje é aqui em casa… c. a. b. i. d. e. l. a…

Ao contrário do que você tá pensando, não me regozijei com o convite. Não fiquei satisfeito em planejar o fim daquele despertador descontrolado. Sentei à mesa, confesso, um pouco triste e, apesar da saborosa iguaria, quase não comi direito, pelo menos até eu ouvir o cantar do galo no quintal em pleno meio dia!

- Pai, num fizeste a cabidela com o galo, não?

- Que nada, comprei na granja.

Repeti mais duas vezes o prato!

P. S.: um galo vive em média cinco anos… dá pra esperar!

26.10.10

Gafanhotos



Deus é desenrolado mesmo. Aquela estória da praga de gafanhotos que invadiu o Egito e quase acaba com o alimento do povo teria uma carga muito menor de dramaticidade se tivesse ocorrido na China!

Melhor dizendo, não seria una praga e sim uma dádiva. Na China a população come grilo, escorpião e até gafanhoto, tudo bem crocante no espetinho.

- Tem gente que come cada coisa...

Noutro dia eu tava na Bodega do Véio, em Olinda, tomando uma cerveja, em pé, olhando o povo passar, quando me aparece um amigo de infância puxando uma criança de uns 10 anos pelo braço e carregando uma outra, de uns três, encangada no colo.

Conversa vai e vem quando eu pergunto da mãe dos meninos.

- Ela já vem, ficou no caminho comprando uns espetinhos.

Lembrei da praga de gafanhotos e torci para que sua esposa viesse com, no mínimo, um de frango ou coração!

Aí aparece uma mulher se aproximando com dois espetos na mão e um pratinho de vinagrete na outra. Não arrisquei perguntar se a moça era a esposa do meu amigo. A bichinha era desprovida de beleza e ainda coxa da perna esquerda. Vai que ele se ofendesse, sei lá!

Mas num é que era...

Fui apresentado, conversamos, marcamos de sair juntos para tomar alguma coisa, nos despedimos e eu pensando...

- Tem gente que come cada coisa...


P.S.: acho que gafanhoto é feio porque não come carne!

14.10.10

Osso duro de roer



Na fila do cinema eu já sabia que a espera ia ser grande, homérica. Chegamos às 18 em ponto, mas as sessões das 18:30, 20:40 em duas salas e todas as três da outra estavam esgotadas. Só reatava uma única sessão de 22:50 na sala seis. O filme: tropa de elite 2.


Não esmorecemos, mantivemos a linha e após 45 minutos conseguimos as entradas – não numeradas – para a última sessão. A fila ainda tava grande e só ouvimos os lamentos e xingações do pessoal que não conseguiu ingresso.


Fazer o quê? Passear no shopping até a hora da película. – É… filme nacional também é gravado em película, pessoal!


Fome da “boba”, fomos bater um rango. Salada de camarão. Andamos muito, compramos “brebotes” e, pouco antes do filme começar fui ao banheiro aliviar as cocas-zero tomadas nesse entremeio, quando um maluco cheio de correntes no pescoço, mais baixo que eu, chega ao mictório, do meu lado e dispara:


– Aê cumpade! Passa o ingresso aí mô irmão…


– Como é que é, mô véio? (esse sou eu)


– É isso mermo cabeludo, eu vi que tu comprou os últimos do Tropa de Elite e eu tô pedindo na moral pra tu passar essas porra!!!


– Apoi chama teus cumparsa, cumpade, que nóis vai é disputá esses ingresso é na tapa. (eu de novo)


Resultado: rasteira pra lá e prá cá, empurrão, tapa até umas zoras, e fui eu quem saiu do WC com os tickets no bolso e com um supercílio aberto. Mas fui assistir ao filme.


Valeu a pena. O Cap. Nascimento tá insuperável. A fotografia e o roteiro são excelentes e o áudio de primeira. Cine naciona com cara de gente grande.


Só não vai ganhar o Oscar por que não será indicado. Quem indica o filme brasileiro que concorrerá a uma vaga da Academia é o Ministério da Cultura, que por sua vez é composto de políticos, os mesmos políticos que estão tão piamente retratados no enredo. Infelizmente acho que a galera, inclusive Wagner Moura, que também entrou como co-produtor, vai ter que se contentar com Cannes e sua Palma de Ouro, ou outros festivais sérios de cinema que brindam a arte e não apenas visam a bilheteria, que certamente virão… mas tá valendo.


P.S.: Assistam

6.10.10

Envelhecência

Quando o primeiro da turma casou, não sabíamos exatamente o que dizer. Birôio era legal e da gréia, apesar do estrabismo e de ser o mais gordo entre os recém adultos amigos de infância. Um dos poucos que tinham carro, namorava com Laurinha...

Ahh... Laurinha. Não sabíamos exatamente porque ela escolheu Birôio pra namorar, e muito menos pra casar, mas aposto que qualquer um de nós gostaria de desbravar essa nova etapa da vida ao seu lado. Ela era incrível. Daquelas que desafiam paradigmas. Bonita, inteligente e canta.

Lembro de um churrasco onde Douglas (esse era o nome de Birôio) chegou um pouco depois de Laura dizendo na roda de amigos: “oi amore, desculpa o atraso”. Laurinha rebateu de pronto: “fala feito homem, porra!”. Ela não gostava de frescuras adjetivantes: mozi, momo, cuti-cuti... esse papo nhenhemzinho era amplamente descartado por Laura. Mas mesmo assim casou-se com Birôio.

Nos anos seguintes quase todos nós da rua casamos, o último solteirão acaba de mandar o convite do seu casamento por e-mail, porém, durante muitos anos havíamos perdido o contato com o primeiro casal oficial da turma.

Passados mais de 20 anos desde o casamento de Birôio e de Laurinha, noventa por cento dos casamentos daquela galera não aguentou os melindres e caprichos da convivência conjugal e acabaram antes das primeiras bodas, inclusive o meu.

Esta semana eu estava fazendo compras no Extra e ao entrar na seção de congelados, deparei-me com Laurinha, três meninas e, pasmem, Douglas, casados, felizes e divertidos como sempre. Disseram que voltaram para o bairro. Laurinha, agora já coroa, continua uma gata de arrebatar corações e deixar peruas de 25 anos roxas de inveja. Se ela lesse meu pensamento diria: “fala feito homem, porra!”.

Ahh... Laurinha.

4.10.10

Mudei

Após uma longa temporada morando em em 3 edifícios diferentes, mudei há uns dois meses para uma casa. Este mote: casa & construção, será tema de crônicas futuras, porém gostaria de aqui, deixar registrado o processo de adaptação a um novo estilo de moradia, plana, ao nível do mar, com garagem… uma casa!


No último prédio, em quase cinco anos, eu não sabia o que eram “vizinhos”. Além do síndico, seu Odilon, que eu a principio julgara um aposentado, e logo depois confirmara a suspeita, e era o único morador que até então dispensara alguma prosa. Cinco anos eu um prédio de 40 apartamentos e não ouvia a voz de quase ninguém, a não ser a daquela simpática moradora que vez por outra interfonava dizendo: “olá seu Alberto, desculpe acordá-lo mas é que eu bati no seu carro de novo, hi hi hi.”. Sem problemas, ela sempre pagou o conserto do parachoque.


Na nova casa, com mais que o dobro do tamanho do apertamento anterior, tenho agora espaço para guardar a minha bicicleta, que não precisa mais ficar entacionada à frente da geladeira. Não que seja um mau lugar, mas é que a porta do eletrodoméstico tava parecendo de carro que estaciona em shopping, cheia de morsas, já tinha até cogitado de levá-la a um martelinho de ouro aqui perto.


Fora o empréstimo, que ainda perdurará por seis anos, e a construção, que me envelheceu outros oito e emagreceu 10 quilos, a casa ficou ótima. Quase que em sua totalidade espaçosa, exceto pela garagem, que neste caso, creio o problema ser o tamanho excessivo do meu carro, mas já estou procurando algo menor. Temos quartos pra todos e ainda sobrou um espaço para um misto de estúdio e escritório onde faço minhas músicas e meus freela’s.


Os costumes de uma casa são diferentes dos de um apartamento. O oitão (antigo isso, né?), um corredor externo que liga o quintal nos fundos à garagem na frente, tem uma peculiaridade interessante: geração espontânea! Há duas semanas que brotam lá talheres das mais diversas marcas e cores. Nenhum iguais aos meus. Hoje de manhã encontrei uma faca verde limão e uma colher bege. Estou guardando tudo, quando completar um faqueiro eu verei o que faço.


Outra curiosidade é que a janela do meu quarto no primeiro andar dá pra o quintal do vizinho, um senhor aposentado que vive arando a terra pra platar sua horta. O ritual se repete todo dia, inclusive nos finais de semana, até as oito, quando baixa um sapateiro no véio e ele começa a consertar sapatos, caçarolas (também é antigo, hein?) e tudo que aparecer quebrado na casa dele e no resto do bairro, nunca falta serviço. Ganhei um despertador infalível com um barulho infernal.


Acho que tenho que trabalhar mais, muito mais, pra quando eu me aposentar ir morar em algum vigésimo andar por aí… sem vizinhos.


P.S.: Nunca mais construo nada.

25.8.10

Vou transferir meu título pra São Paulo!


O guia eleitoral é muita onda! No programa do PSOL, apareceu uma luta de boxe muito doida. Uma casal de velhinhos está se degladiando num ringue, supostamente representando Dilmao e Serrote, quando aparece um magricela (Plinóquio) e golpeia os dois.

O que será que o diretor de marketing desse partido pensa? Que bater em um casal de velhinhos no ar, em horário nobre, é suficiente para eleger alguém? Essa infeliz campanha agride pelo menos a uma dúzia de códigos civis e penais, de Maria da Penha ao Estatuto do Idoso.

Porém, nem tudo são horrores no horário gratuito (gratuito para os partidos, é claro). Em São Paulo um candidato a deputado federal chama a atenção pela seguinte declaração: “se você num vota nimim eu vou MORRER!”. O dono desse jargão que, infelizmente, não se pode implantar ao pé da letra para todos os fuleiros, é ninguém menos que Tiririca, aquele mesmo da “Florentina”...

Se eu conseguir transferir meu título para Sampa, juro que voto nele. Cansei de votar nos mesmos pilantras de sempre. Cansei de assistir a vitórias compradas. É muito fácil se eleger, basta “contratar” o número de bocas de urna correspondentes ao quociente que se elege, ou "assumir" a autoria de algum projeto re redução de contas de luz, ou de trazer o porto de Suape e pronto. A grana do caixa dois está aí pra isso mesmo. Depois é só aprovar uns projetinhos de desmatamento, ou de tributação ou o que quer que o empresário financiador queira, que na próxima eleição tem mais caixa.

Queria ver Tiririca eleito. Além de ratificar minha insatisfação por esses palhaços que nos fazem de iguais, eu iria ter a certeza de que pelo menos um dos baronéis da nossa política teria perdido a vez para a representação mais simplória do nosso povo.

Vote Titirica.

P.S.: o que ia ter de ex-político suicidando-se não tava no gibi.

25.7.10

Pesquisa

Durante o GP Alemanha, perguntaram a 20 pilotos de Formula 1, quem foi o melhor piloto de todos os tempos... 10 acertaram: Ayrton Senna!!!

P.S.: se fizerem a mesma pergunta pro futebol vai ser uma goleada pra Pele ou Brasao!!!

5.5.10

Já fiz muita besteira e agora faço 39


Nunca fui de fazer comemorações homéricas no meu aniversário. Geralmente reúno um grupo de amigos em casa ou em um barzinho agradável e que tenha cartão de consumo individual, claro! Não é nem por pirangagem, mas, uma vez tive que morrer com quase trezentos contos na conta que a galera “esqueceu” de pagar. A amizade continua.


Agora com quase quarenta, sinto que acertei nesse quesito. Festas imensas são pra pessoas diferentes de mim (descolados). Sou mais reservado – não tímido –, gosto de tocar violão e de vodka com qualquer coisa. Gosto da gréia, mas, com moderação. Apesar de que agora basta tomar meia garrafa de Absolut que esqueço da noite anterior! Acho que é a idade, ou alguma substância desconhecida que tão botando na vodka.


Na infância e adolescência (e em menor escala na vida adulta) fiz muita merda. Enquanto não compreendi bem o porquê da gente estar aqui, as variantes emoções e as oportunidades relâmpago foram experimentadas sem pestanejar. Namorei com mais de uma, briguei no carnaval, perturbei a paz e os ambientes sociais, falsifiquei convites e até roubei bolo de 15 anos... ... ahh, afanei alguns chicletes no Balaio também!


Não posso dizer que me arrependi das grandes peripécias, por que nas ocasiões a gente achava que aquilo nem era tão errado assim. E além do mais, a maioria desses “crimes” já prescreveu. Mas, obviamente, algumas coisas eu trataria de maneira diferente, hoje.


Aos 39 sou um pai de família (de um casal), namoro firme, abandonei a academia, acabo de construir uma casa, eliminei o aluguel e acho até que vou fazer outra viagem e trocar de carro... de novo! A vida continua e ainda me sinto jovem. Tenho que dar bons exemplos pros meus filhos e perdoar as pequenas faltas que eles cometerem, afinal, eu sei o que é estar do outro lado!


P.S.: agora entendo, perfeitamente, o choque de gerações! É totalmente lógico!

17.3.10

Etilic way



Antes de sair para o carnaval, tomei quatro taças de um vinho do Porto que comprei em Lisboa por € 9,00. Aqui, o mesmo custa R$ 102,00 e eu nunca o compraria (sóbrio), ou seja, só vou comprar em Portugal, mesmo! Caro é a passagem! Pois bem, só depois do consumo que descobri que a taça pra tomar esse tipo de vinho é diferente: menor e mais singela. Do jeito que eu enchi as taças como se fosse vinho tinto, já nem me lembro mais se foram quatro ou cinco.



A Inês é morta! Saí pra Olinda, pra Sé, pro Enquanto Isso na Sala da Justiça. Mais bebida, cerveja, calor da porra! E eu de NINJA PRETO!



O bom de sair disfarçado é que a gente tira onda com todo mundo e ninguém... nem, nem! Roubei lata de Skol da mão da galera. Dei (desculpem o trocadilho) um ninja na namorada. Bebi mais ainda (mais cerveja) e só não lutei no TeleCatch por que tava um calor da porra! Também, de ninja preto! A namorada me achou!



A diretoria do bloco também deu um ninja na gente e mandou duas orquestras: uma na frente pra levar a rafaméia e os lansudos e bêbados (incluo-me), e uma orquestra mais organizada que só arrastou os super-heróis (acho que ainda tem acento). Descemos a ladeira de São Francisco e rumamos pra casa de uma amiga! Feijoada di Grátis e mais bebida, Smirnoff Ice dessa vez.



Um amigo nosso chegou vestido do vulcano Spok de Star Trek... não resisti e mandei: Spok! Toca um frevo aí!



Bucho cheio, fim de tarde, fomos para o Recife Antigo. Encontramos uns amigos em um bloco na rua da Guia num momento em que iriam confrontar outro bloco. Meu camarada chegou pra mim e disse: “vamos enfrentar mermão! A gente tem três tubas e eles só têm 2 tubas”.



Confrontamos o bloco rival. Mais bebida, dessa vez foi uísque. Já à noite entramos no Centro de Apoio ao Turista, no Marco Zero. Tomei umas caipiroskas e comi carne-de-sol com macaxeira (mandioca para os sulistas e para os cearenses que foram pro Rio e pararam na Bahia). No banheiro, pra variar, a fila das mulheres dava voltas enquanto a dos homens tava uma beleza! Bom sem homem, 'mermão'!



Encontrei uma camisinha usada no chão do banheiro químico! Acho que rolou um love story gay. Uma bichada rapidinha no cubículo mictorial. Tem gente pra tudo! Eca!



Mais cerveja e táxi pra casa. Meu irmão! Andamos até a puta que pariu depois da ponte pra achar o táxi. Eu disse ao motô: mermão "vambora logo que amanhã eu tenho que tá cedo em Olinda"!



P.S.: a maioria das estórias relatadas me foi transmitida por quem presenciou essa saga etítica. Num lembro de quase nada!