28.9.09

Tempos engraxados



Ontem à tarde saí do trabalho para tomar um ar, uma coca e um pouco de nostalgia. Andei pelo centro do Recife. O melhor horário para fazer isso é entre 16h30 e 17 horas, quando a luz do sol incide quase que tangencialmente sobre os prédios e pontes da cidade.
A Avenida Guararapes é um bom lugar para observar essa incidência solar, portanto uni o útil ao observável e resolvi engraxar os sapatos. Nunca tinha feito isso na vida, quer dizer... já havia comprado alguns Nuggets, mas nunca engraxado na rua, nunca com todos olhando, nunca com um “profissional”.


O senhor João Maurício de Aguiar era um homem idoso, de uns 65-70 anos, careca e moreno de sol. Ofereceu-me uma Playboy, a de Bárbara Borges, e começou a passar a cera no meu sapato devidamente protegido por umas “caneleiras” pra não sujar as meias.


Conversa vai e vem, descubro que o senhor João, além de ser tricolor de coração, é um expert em paradas de ônibus. Em quinze minutos, seis pessoas pararam e se informaram onde era a sua parada. Ele me disse com orgulho, que até na semana que antecede o carnaval, onde todas as linhas mudam de rota, indica com precisão os pontos aos nativos e turistas momescos. O homem é o GoogleMaps do Centro.

À noite, fui jantar em uma creperia à francesa no bairro de Casa Forte e experimentei o cardápio do Recife Sabor e Arte, festival de culinária que aterrissou por aqui esse mês e que inventa novos sabores com nomes dos lugares da cidade em que aporta, minha namorada preferiu o cardápio tradicional, quando de repente, aparece Marcelo Aguiar da Silva, franzino garoto de uns 12-14 anos, com uma camisa do Santa Cruz Futebol Clube e uma caixa de engraxate às costas. Perguntou se eu queria “uma graxadinha”, respondi que não, que já havia engraxado antes e pensei em seu João e em nossa política de educação e empregos. Triste passado. Triste futuro.

P.S.: Vou tentar manter o hábito de engraxar sapatos, e de comer crepes, claro.

1.6.09

Sinuca de bico


Edson e Gabriela namoraram oito anos em total harmonia até que o dia do casamento chegou. Lua de mel em Salvador com todos os “acarajés” a que tinham direito, afinal, eram considerados por todos um casal perfeito.

Desde o primeiro dos 10 dias programados para a viagem, “Sonzinho”, como sua agora esposa o tratava, pedia para jogarem sinuca juntos... “Bizinha”, como ele a tratava, sempre negava-se, alegando que tinham um milhão de coisas a fazer naquela terra massa e não poderiam perder tempo em um jogo que ela não sabia nem jogar...


Os passeios seguiam pelo Pelourinho, Itapoã, Morro de São Paulo, Itaparica, sempre com a insistência de Edson: e aí amor? Vamos uma partidinha hoje? A insistência foi tanta e tantos foram os gostos que Gabi teve realizados que no último dia resolveu jogar a tão solicitada partida.

Bolas postas, resolveram jogar no estilo profissional com “bola da vez” e tudo.


Ganha sete, volta bola, barbariza Edson em tacadas firmes, aprimoradas na faculdade. Perde sete, suicida, “espirra” taco no mal traçado jogo de Gabi, mas ela não se importava com o vexame, só queria acabar logo a partida e correr pro aeroporto pra voltar ao Recife. De repente e sem querer, Gabi põe Edson em uma “sinuca de bico”! Daquelas jogadas em que Rui Chapéu tiraria o próprio para quem escapasse e acertasse a bola seis, cercada por muitas, onde só havia um caminho estreito entre sete ou oito bolas e duas tabelas para concretizar o lance.

Giz no taco, suor nas mão, toalhinha, testa franzida, concentração, eram a preparação para tacada... perfeição! Parecia que a bola estava sendo conduzida por alguma Força Jedi. Acertou a bola seis que caiu na caçapa do canto e, de quebra, derrubou a 15 terminando precocemente a jogatina.

Malas prontas, viagem tranquila, pensamento no novo lar.

Os problemas iniciaram quando Edson começou, exaustivamente, a relembrar a sua tacada mágica. Contava todos os detalhes a todos que encontrava, do motorista do táxi à aeromoça, do tio Pepe ao porteiro do prédio, a todos os amigos e família, sempre pedindo confirmação a Gabriela: e aquela bola seis, hein “bizinha”?

No terceiro mês, Gabi pediu o divórcio!


P.S.: Edson voltou a jogar e a beber no bar em frente à faculdade, mas continua a falar daquela bola seis.


2.3.09

Lembralheira

Quatro moleques descalços
Jogando bola de gude
Leite de vaca na lata
Banho de bica e açúde
Velho dançando xaxado
Sem se importar com a idade
Da minha infância querida
Só me restou a saudade


Andar sozinho pra escola
Manga madura roubada
Carregá milho em sacola
Espiá quarto de empregada
Corrê atrás de cigarra
Cumê tanajura bunduda
Da minha infância querida
Só me restou a saudade

Empinar pipa adoidado
Fazer picolé de Quissuque
Sair correndo na chuva
Andar de patim e patinete
Guardar chiclete em papel
Pra recomer amaistarde
Da minha infância querida
Só me restou a saudade


Tampa de caneta Bic
Tirando cera de ouvido
Criar preá no quintal
Trocar panela por pinto
Esperar almoço de vó
Brincar na rua até tarde
Da minha infância querida
Só me restou a saudade

6.2.09

Volta

Particularmente eu traria uma coisa de São Paulo:
Padaria Bella Paulista
P.S.: Vai uma musiquinha pra esperar o carnaval?
Turbilhão