3.1.06

O redondo não!

Passei algum tempo sem relógio de pulso (engraçado, né? Tempo, sem relógio?). Desde que um rapaz, educadamente, bateu com o cano do seu 38 contra o vidro do carro, dizendo: – “passa o redondo”. Não! Não era nenhum pedido libidinoso, estava se referindo ao relógio de pulso. Ah! E à carteira, o celular e o que mais estivesse “de bobeira”.

Fora o choque causado pelo ato violento, o assalto em si, ficou aquela sensação de segurança quebrada, de que você está indefeso contra o sistema, que dá “poder” aos que possuem armas, para tirar a vida do semelhante.

Fiquei muito tempo sem relógio de pulso. O celular teve que ser reposto imediatamente, claro, dependia dele para o trabalho, mas o relógio... talvez tenha sido o trauma e a indisposição para comprar outro daqueles. Passaria até mais alguns meses sem relógio, mas decidi comprar um desses que vendem na esquina! Perguntei ao ambulante: – e a garantia? – Claro que ele me respondeu sorrindo: – “soy yo!" Na outra semana entendi o porquê do sorriso irônico, havia água saindo por todos os “poros” do instrumento medidor de tempo, ao qual o vendedor chamou de relógio, e olhe que eu só mergulhei em uma banheira!

Não desisti! Procurei outro, em um camelô mais requintado, esse tinha até uma placa neon que dizia “CONCERTO E PECAS”, com todas as letras (e/ou suas permutas)! Estranhamente senti credibilidade no comerciante e comprei um substituto para aquele anterior, o do Aquaman, lembra?. O novo era até simpático! gostava dele, combinava com minhas roupas, mas aconteceu uma sauna... isso mesmo, daquelas bem quentes! Havia a inscrição “water resistent”, mas ninguém me falou nada sobre saunas. Depois da sauna, nunca mais foi o mesmo, apesar da troca da pilha e do uso do secador de cabelo para evaporar as gotículas entranhadas no mecanismo.

Ainda houve outro, depois do “termo sensível”, mas este não durou mais que dois meses, problema de “junta”. Resolvi ficar sem relógio de pulso mesmo. Não tinha pretensão alguma de extinguir as horas da minha rotina, mesmo porque, elas estão presentes na vida, em mais lugares que imaginamos: no celular, no carro, no microondas, no computador, e até na marquise do prédio que fica em frente ao meu estacionamento, além de todos os compromissos que marcamos.

Todos temos horários, óbvio! São importantes para o sincronismo nas relações. Imagine que você marca um encontro com aquela gata que todo mundo já convidou pra sair, mas ela só aceitou o seu convite, e, por uma inexistência de responsabilidade horária, você só chega no bar muito mais tarde, e ainda descobre que ela saiu com o Gaudêncio (advogado), aquele cara chato da repartição, que entende “de merda a foguete”, e que vai passar o resto da vida dando um tapinha nas suas costas e dizendo: –“podia ter sido você! He, he, he...”.

P.S.: melhor comprar um relógio decente... e espero que não me peçam “o redondo” de novo!!!