5.4.06

O passado chama


O casal era bem relacionado. Ele, Mário, vivia com muitas atribuições profissionais. Essas pessoas que trabalham na bolsa de valores são assim... logo cedo já começam a gritar, literalmente, ao telefone, e o que é pior: sofrem pressão “monetária”, afinal, se movimentar o nosso pouco dinheiro já é um estresse, imaginem lidar com os milhões dos outros, triplica a responsabilidade.

Ela, Roberta, também levava uma vida de correrias. Como professora municipal, não sobrava muito tempo para o descanso merecido. Trabalhava em duas escolas, afinal, o orçamento familiar e sua independência financeira do marido dependiam do seu próprio esforço, sem falar na dureza que é lidar com o fator humano, principalmente crianças, todos os dias.

Apesar de todo esse esforço semanal, os dois ainda arranjavam tempo livre, inclusive nos finais de semana, para participar de programas de voluntariado, como o Amigos da Escola ou o de apoio ao Hospital do Câncer. E foi num desses trabalhos voluntários que conheceram Ramsés, um senhor simpático, praticante do espiritismo, de boa índole e excelente visão altruísta. Ele disse que estava organizando um cruzeiro marítimo pelo litoral nordestino, tendo como saída, Salvador, e como ponto extremo, Fernando de Noronha. O embarque estava previsto para dali a quatro semanas.

Nos outros três finais de semana que se encontraram, Ramsés insistira muito, principalmente com Roberta, para que o casal desfrutasse um pouco da vida terrena, que se divertisse e esquecesse o ritmo frenético dos expedientes obrigatórios. Ele insistiu tanto para que fossem ao cruzeiro que Roberta conseguiu convencer Mário, afinal, Ramsés já havia até conseguido um desconto de 50% nas suas passagens, com o argumento que o embarque não seria no início da viagem, em Salvador, mas na primeira parada.

No domingo à tarde do final de semana seguinte, malas prontas, dirigiram-se ao porto do Recife, onde iriam interceptar o navio e embarcar na primeira classe, afinal, com o desconto conseguido dava para usufruir das melhores acomodações. Festa na saída e choro dos familiares que acenavam com lenços brancos, bem ao estilo “Terra Nostra”.

No início, a viagem transcorreu naturalmente, com os enjôos normais que assolam mesmo os “marinheiros iniciantes”, mas nada que um Dramin não resolvesse. Roberta e Mário estavam felizes e receptivos a novas amizades, e foi isso mesmo que fizeram, conheceram a família de Ramsés e logo se sentiram à vontade, como se fizessem parte dela. Na segunda noite do cruzeiro, ao passar a mais ou menos 50 milhas náuticas de Natal, Roberta sentiu um arrepio na espinha, bem na hora do jantar (sabe como são esses jantares de navio? Todos no restaurante principal e absolutamente ninguém no tombadilho), claro, a comida é de primeira e ninguém queria perder os shows programados para aquela noite, logo depois, ouviu seu nome sendo chamado através da porta lateral do convés, próximo à sua mesa.

– Roberta, precisamos de você! – disseram.
– Mário, você ouviu isso?
– Ouvi o quê Roberta, tem tanta gente falando?
– Essa voz de criança me chamando, não ouviu?
– Acho melhor você dar um tempinho nesse champanhe, toma uma coca.
– Não Mário, eu ouvi sim, vamos ver quem é?
– Eu sem quem é Roberta, é sua imaginação.

Roberta levantou-se e saiu pela porta de onde ouvira a voz, andou pela lateral do navio, com passos lentos e tentando não fazer barulho com seu salto alto, até que na proa oeste, onde se obtia uma vista privilegiada das luzes do litoral do Rio Grande do Norte, encontrou Ramsés, imóvel, com um olhar fixo para a base do casco, como se procurasse ver algo entre as marolas formadas pelo deslocamento da água. Roberta mal chegou a dizer algo a ele, e,. sem olhar para trás, indagou:

– são as vozes, não são?

Nesse momento, Roberta ouviu a voz de novo, agora mais alta, como que viesse da direção que seu amigo olhava, dessa vez com a seguinte mensagem:

– Roberta, precisamos de ajuda... os padres!


Continua...

5 comentários:

Mack disse...

Continua logo!
Tô louca pra saber o que esses padres têm a ver com a história!
Beijo B.

SACANITAS disse...

uiiiiiiiiiii!!!!
que medo!

depois volto pra ler o resto!
bjocas

Laura_Diz disse...

padres?
fazia tempo não vinha aqui, estava com saudades, ando com menos tempo e perdidinha :)
bj laura

SACANITAS disse...

kkkkkkk! eh mesmo!




mas... e os padres?
beijocas

Elayne disse...

Vixi ... fiquei curiosa com a continuação ...
Elayne Cristina
www.tofelizdavida.weblogger.com.br