5.6.06

O passado chama – Final


Para Robson, nada daquilo fazia sentido, pois sendo mergulhador profissional e contando com a ajuda das mais altas tecnologias para o desempenho de sua função, nunca houvera encontrado sinal algum do naufrágio que seus olhos viam, mas custavam a crer. Como que se indignasse com a descoberta de Ramsés, exclamou:

Não é possível! Eu e meus sócios da escola de mergulho, junto com os biólogos marinhos daqui, já mapeamos todo esse litoral, encontramos 28 naufrágios, e sete sítios arqueológicos, e nunca vimos esses destroços, que, pelo tamanho, não nos escaparia.
– Pois é meu caro Robson, às vezes só vemos aquilo que nos é permitido. Agora vamos resgatar aquela caixa, aquela que está no centro da formação, há respostas para uma vida inteira de perguntas e sofrimentos dentro dela.

Utilizando um braço robô, Robson trouxe a caixa para o compartimento de carga do minisub. Toda a operação não durou mais do que 30 minutos, ratificando as previsões do organizador da expedição, deixando Roberta impressionada com a aventura e intrigada com o real motivo da sua presença ali, já que achara que não contribuíra muito com o “resgate”.

Os três voltaram ao tombadilho do navio antes mesmo dos familiares acordarem, trazendo consigo o artefato que Ramsés não via a hora de abrir para desvendar o mistério de tantos anos. Descobrir o que aquela caixa preta, agora repleta de corais e outras comunidades marinhas incrustadas na sua superfície, lhe traria em sua busca pela paz de espírito que há tanto não tinha.

Os três foram para um setor do navio destinado ao estudo científico de corais e espécimes do mar, onde dispunham de microscópios, sondas e analisadores de compostos que, segundo Ramsés, os ajudariam a identificar as minúcias do achado.

Roberta, cada vez mais preocupada com a verdadeira razão de sua permanência nessa busca de, “nem sei o quê”, quis deixar o grupo e voltar ao seu quarto, quando foi interrompida rapidamente, com a seguinte frase:

– Escute Roberta! Nossas razões são distintas sim, mas você vai querer saber o que há na caixa. – nesse momento, Robson o interrompeu.
– Sr. Ramsés, o equipamento está pronto. Vou começar a abrir o artefato.

Todas as certezas de Ramsés foram confirmadas quando Robson ativou um sistema de garras mecânicas dotado de uma serra hidráulica, para abrir a tal caixa. E o que se seguiu foi uma cena dramática demais para Roberta agüentar. Após se recobrar do desmaio, Ramsés e Robson já estavam separando os ossos das crianças do orfanato recifense, aos quais submetia aos testes do laboratório e etiquetava-os, com nome e sobrenome da época que morreram e, logo abaixo, com outro nome e sobrenome, juntos de uma data de nascimento e morte, algumas muito próximas à data do “acidente”.

O que chamou a atenção de Roberta, foi uma determinada etiqueta que continha seu nome e data de nascimento, era uma das duas que não tinham data de morte, a outra era a de Ramsés. A descoberta a deixou boquiaberta por alguns instantes. Até que as coisas começaram a fazer algum sentido. Nesse momento um arrepio avassalador se abateu sobre o corpo da moça, que, sentando ao lado de Ramsés pediu-lhe, encarecidamente, por explicações.

– Somos nós Roberta! Eu, você e mais alguns dos meninos do orfanato que habitávamos em uma outra encarnação. Tínhamos a promessa de criação na Europa, e fomos levados pelos jesuítas, que organizaram a papelada para adoção. Mas algo deu errado, eles foram emboscados ao chegar nesse ponto do oceano. Foram roubados, mortos e esquartejados. Mas os bandidos encontraram as crianças nos aposentos, colocaram-nas na caixa e atiraram ao mar. Daí em diante todos eles reencarnaram. Eu fui um dos últimos, excetuando-se você. Construímos uma confraria para hoje, infelizmente só hoje, quando todos os outros já estão mortos, descobrirmos a caixa.

Roberta acreditou na explicação de Ramsés, claro. No fundo do seu coração, ela sabia a verdade. A missão do seu amigo estava acabada, mas a dela havia apenas começado Seu dever era encontrar os descendentes (leia-se reencarnados) dos bandidos que cometeram a atrocidade, e então completar seu destino, mostrando-lhes as descobertas e fazer-lhes arrependerem-se do ocorrido.

Milhões de reais estavam depositados em sua conta. Afinal, ela era herdeira moral de todos os companheiros da creche do início do século passado, e deveria usar essa fortuna em dois objetivos: completar sua missão e reiniciar as obras da creche.


P.S.: hoje Roberta é presidente da ONG Deixe Viver. Concluiu sua sina e anda muito feliz por saber do paradeiro de cada um dos seus irmãos. Ramsés faleceu após a ancoragem do navio, mas até então ainda conversa com Roberta e com todos os seus, através das vozes...

7 comentários:

do ás ao rei disse...

Adoraria a sugestão de vocês sobre como Roberta conseguiu encontrar os bandidos, e se ela os puniu ou perdoou?

abraços...

Yvette Maria Moura. disse...

Caramba, Albert, adorei a história e o desfecho que deu a ela (embora tenha deixado uma brecha para a continuação).
Mas há alguns pontos que não ficaram claros para mim...
te escrevo um e-mail, ok?
bjo.
Ps.: Sugiro que Roberta não encontre os bandidos (todos desencarnados) e resolva abrir a ONG para ficar em paz com sua consciência.
Posteriormente, numa sessão espirita, talvez, (religião que adotou depois de tudo isso) ela descubra que os bandidos são algumas das crianças que ela agora cuida através da ONG. que tal???

Yvette Maria Moura. disse...

e quem teria dito isso para ela???
Ramsés, é claro.
bjo.

Anônimo disse...

Declaração.

Venho por meio desta, infomar que estou ausente por motivos de força maior (estudando com filhos para as provas... uma só mãe, dois filhos, e muuuuuuuuitas provas - credo -).
Em breve estaremos retornando com os comentários.
Sem mais para o momento
Minhas cordiais bjoks (heheh)

SACANITAS disse...

putz, adoreeeeeeei!!!!!

e penso que a roberta deve ir atras da sua missao sim. encontrar os bandidos pode ser bem emocionante...

e o bom eh que poderemos continuar curtindo a leitura por aqui...

beijoca amore!

SACANITAS disse...

mas e ai? vai escrever outros? :)

beijosssss

Anônimo disse...

muito bom! quero mais! escreva mais!
http://carla-feitosa.blog.uol.com.br/