5.10.05

Razões vagas, abismo na sola

A razão vive em um ístimo, que espera uma chave, um clique, um momento mágico para se desprender do cotidiano e tirar férias da mente. Quando isso ocorre, refugia-se nas profundezas do cérebro, que sem entender sua ausência, a substitui pela loucura, insana e desvairada, porém criativa e carismática.

Quando a loucura desperta, suborna outras partes do corpo, infiltra-se, trabalha disfarçada em corações e poros, ajuda órgãos a enxergar o lado doce do relaxamento, eles tornam-se preguiçosos, desprovidos de vontade, mas adquirem maior sensibilidade, atendem apenas aos anseios da loucura, que sabe usar sua influência para direcioná-los à sua vontade – e se sente à vontade para isso.

A loucura pode ser má, pode levar o indivíduo ao caos, e não abrir brechas para o retorno da razão. Já o caos, se instaurado, revela-se tão louco quanto a loucura, porém, com a vantagem de ser mais transparente, de se deixar perceber apenas com um olhar, nesse caso, há chances da razão voltar, de reassumir o comando do córtex, de “livrar-se” do abismo em que caiu e reassumir seu papel.

Contrariando Descartes, as evidências não serão tão aceitas como antes. Ao reassumir o controle, a razão não será a mesma, não confiará mais em seus ajudantes – os sentidos, não se deixará enganar pelas ilusões ou pelos gostos deixados em memórias infectadas pelos vírus da loucura e do caos. Tantos foram os buracos abertos na sua ausência, que o “pé atrás” fica inevitável.

A razão retorna mais forte, mais dinâmica. Agora ela criou ligações neurais com o resto do corpo, e há quem a chame de louca!

P.S.: todas as boas razões provêm de loucuras depostas!

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