13.10.05

A falta de cultura da Cultura

Hoje eu estive em uma livraria aqui do Recife, uma grande livraria, que possuía a maior variedade possível em seu catálogo, além de seções de música e de espaços confortáveis para o deleite dos leitores enquanto lêem as orelhas das obras em vista, e, em alguns casos, enquanto lêem a obra toda.

O motivo que me levou a tal empresa foi puramente acadêmico. Precisei de duas fotos das seções de livros sobre música para finalizar meu projeto acadêmico. Cheguei ao balcão com a melhor das intenções e a maior das educações, para solicitar uma palavrinha com o gerente e explicar a situação. A recepcionista, também muito gentil, ligou para sua superior e em poucos minutos (não mais que trinta), enquanto eu lia a orelha do Manual do Revisor, de Luiz Roberto Malta, e outras orelhas interessantes, ela desceu para me atender: ­

– Pois não? – Perguntou, naturalmente.
– Olá, sou Alberto Spinelli, aluno da especialização da Universidade Federal (mostrando meu trabalho e explicando que seria um projeto explicitamente acadêmico) e preciso tirar duas fotos da seção...
– infelizmente não posso te ajudar, apenas uma pessoa poderia autorizar essa “operação”...

“Operação” soou como se eu estivesse engendrando um ataque internacional sob forma de espionagem industrial, e como se minha câmera tivesse “leitor gama” e “raio-x” integrados e pudesse revelar todos os segredos da arrumação das prateleiras e o acervo inestimável ali escondido.

– ... a Sra. Sônia pode liberar seu acesso à seção solicitada.
– Ok, posso então falar com ela?
– Um minuto: aqui está o seu cartão, ligue em horário comercial. Nosso escritório é em São Paulo e qualquer foto deve ser solicitada à assessoria de imprensa...
– Você não é a gerente?
– Não. Não temos gerentes, apenas coordenadores de seções e não possuímos autonomia para permitir certas “operações” – Olhem “elas” aí de novo.
– Obrigado então, até mais.
– Não vai querer o cartão?
– Não. Vou em uma livraria menor, onde haja um gerente que tenha autonomia, obrigado.

Claro que eu sei que a culpa não é dos coordenadores, nem das recepcionistas, nem tampouco dos manobristas da livraria. Se há um culpado, é o sistema das grandes corporações que invadem os espaços com seus estoques impecáveis, seu conforto e segurança, sua logística avassaladora, que sem dúvida, facilitam a venda, porém, o fator humano das relações cara a cara com as pessoas que resolvem os problemas deveria ser levado em consideração.

Tenho saudade da livraria de D. Joaninha, que ficava na Rua do Hospício. Era uma pequena livraria onde comprávamos ponta 0.5 e 0.7, e onde raramente achávamos o livro que queríamos, mas D. Joaninha sempre se dispunha a atender-nos pessoalmente, e às vezes, ainda ajudava nos problemas de progressão geométrica. Tenho certeza de que ela faria até pose para a foto das prateleiras.

P.S.: As grandes redes “acabam” com as histórias de pequenos cantos da nossa adolescência.

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