25.10.05

A Feira

Chegamo lá de cinco hora
Antes dos galo cantá
Fumo logo pras verdura
Pru mó das mio pegá

Conheci a banca de Severino, um carioca da gema, que depois de perder o amor de Claudinha, morena vistosa dos dentinhos separados, que quando mostrados criavam barrocas, das pernas roliças, que nem duas palmeiras, que se vistas na praia causavam arrepio, e perdeu essa beleza pra Edgar o seu vizinho, que vendo aquela formosura de beleza, cresceu logo o olho gordo, e deixou Severino sem mulher e na pobreza. Sevé, acoado, num teve outra saída, veio-se embora pra Pernambuco, pra reconstruir a vida.

Tomate, cebola, alface e acelga
Tem conetro, cenoura e tem até berinjela
Colhidos cedinho, quando o sol nem olhava
E o preço tão pouquinho, os cliente nem reclamava

Depois de guardades as verduras no carro, que tava na sombra pra não abafá-las, descemos pro lado das frutas e chamamos um menino risonho, que tava com um carrinho-de-mão pra levar o carrêgo.

Me chamo Zézin
Trabaio adoidado
Acordo cedin
Moro ali do lado

Carrego as feira
Pro mó de um real
Mas na série, já sou terceira
Num quero virar mobral

E assim, as compras mais pesadas, botamo Zézin pra carregar: jaca, melancia, fruta-pão, laranja e maracujá; e tudo de mais de um quilo que a gente pôde comprar.

Inhame, Cebola grande pra assar
Batata doce e inglesa, beterraba e cará
E lá no pé da feira, ao lado dos passarim
Compramo muito morango que aqui em todo canto dá

A feira também tem tristeza, tem gente pedindo esmola, sentada no meio das ruas. Tem criança revirando caixote, pra pegar tomate estragado, tem roubo, pequenos furtos e até grandes desavenças, bem em frente ao mercado.

– me veja dois quilo de porco
do lombo, pra um guizado
com osso do mucumbuco
pro caldo ficá engrossado

– já tô esperando fai tempo
pro mó de sê atendido
se dé a dele primeiro
Dô-le um tapa no ouvido

– “Tem briga lá no mercado” – todos correm pra olhar, – “é Zeca com Tonho bêbo, que começaram a se estranhar”. – o sol já estava a pino, nem sombra tinha pra ficar, a roda já tava grande e os dois no meio a falar:

– É a tua mãe
– É a tua sobrinha
– O teu pai é corno
– O teu usa calcinha

Nessa hora Tonho Bêbo
“largou” a porrada em Zeca
Que saiu cambaleando
e sumiu por entre as banca

Tonho Bêbo todo afoito
Foi beber em Zé Gibão
De repende chega Zeca
Amostrando seu canhão

Tava em casa o três oitão
Carregado de munição
Os mesmo que foi defendido
Por toda a população
No referendo maldito
Quem mata é o cidadão

E o outro que era bom
Minino trabaiadô
Agora veve fugido
Jurado de morte e dor

P.S.: A feira tem de tudo mesmo, tem gato, cachorro e amô!!!

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