14.10.05

Profissões e relacionamentos

Já há algum tempo eu pensava em escrever sobre algumas profissões e alguns profissionais, parece-me que algumas personalidades só “casam” com determinadas profissões, coisas que se atraem como imãs ou como macarrão ao molho e toalha de mesa. Não é regra, claro, mas a quantidade de gente que tenho visto com características de profissões, e vice-versa, é absurda.

As palavras não chegavam facilmente para transpor o tema, porém, li um texto, desses que vagueiam pela net entre aspas, mas com a autoria desconhecida, tal passagem causou-me uma enxurrada de idéias que se transformaram nas comparações abaixo, vamos primeiro ao texto:

“Era uma vez um rei narigudo. Quando chegou a idade avançada, quis o soberano deixar sua imagem para as próximas gerações e convocou o melhor pintor do reino para pintá-lo. Porém, ao ver seu perfil fielmente reproduzido no retrato, o vaidoso soberano bradou: "Cortem-lhe a cabeça"!

O segundo pintor convocado, tratou de pintar o rei de frente, diminuindo-lhe sensivelmente as narinas. O soberano era vaidoso mas não era burro: "Cortem a cabeça deste puxa-saco".

Um terceiro pintor foi então convocado e enfrentou o dilema: "se pintar a verdade estarei morto e se pintar a mentira, também". Acontece que o rei gostava de caçar e ocorreu ao artista pintá-lo com o rifle atirando de forma que seu nariz não aparecesse. E assim, o pintor conquistou um tesouro e o amor da princesa.”

Assim que li tal texto, ocorreu-me que as características que eu venho identificando nas pessoas ao meu redor podem ser traduzidas como a vontade de transcrever o mundo do seu jeito, e já que é mais cômodo se impor pelo exercício da sua profissão, elas se apóiam nesse pilar para demonstrar, em alguns casos, seus ideais e suas idéias.

Talvez por lidar diariamente com profissionais de ramos muito distintos, como: advogados, bancários, comerciantes, médicos, professores, jornalistas e artistas, para citar alguns, as características de cada profissão sejam por mim mais observadas, e findem por me permitirem a seguinte comparação:

Tal como o primeiro pintor, alguns, como direi... “céticos”, nessa lista incluo os advogados e essa gente que lida com e tem muito dinheiro, pessoas que “sabem tudo” e não aceitam facilmente a opinião dos outros. Obviamente há exceções. Conheço um, ou melhor, dois advogados que são gente muito boa, inclusive acho que um deles é um espírito de luz. Quanto à maioria deles que me cerca, acho que fazem a transposição dos problemas e transtornos, que são comuns a todos, para seu arredor, tornando “tudo” uma discussão de direito ou um cálculo de juros.

Já a segunda categoria, a que tenta dirimir a verdade, e que, com a faca entre os dentes, sai e enfrenta as adversidades, muitas vezes causadas pelo “primeiro pintor”, essa sim, pode-se chamar de “a categoria que sustenta o progresso”, são professores, jornalistas, alguns médicos, entre outros, que acreditam no que fazem, no que criam, e, aquém de recompensa, lidam com gente, e formam caráter.

O terceiro e último pintor é como a classe artística: pintores, escritores, músicos, e muitos outros mambembes que enxergam uma beleza na realidade, que extrapolam os limites da dor e do sofrimento a que são tão conectadas, pessoas que extraem de si, do seu íntimo, palavras, sons, versos ou atos que trazem paz e sorrisos, que promovem o belo e o admirado, que fazem arte...

Se você se inclui em alguma das duas categorias anteriores, faça arte! Descubra-se!

P.S.: O danado do terceiro pintor ainda "pegou" a princesa!

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