17.10.05

O tempo leva tudo, apaga tudo

Aquele mesmo tempo que deixa sem letras os faxes ou os extratos bancários. O mesmo tempo que é cruel e chega mais rápido para nossos cachorros que para nós.

– Quantos cachorros já tive? E quantos deles morreram de velhice enquanto eu ainda era jovem? O tempo os levou...

O tempo é o implacável devorador de rostos e de sonhos. Quando damos por nós, envelhecemos, perdemos a chance de realizar o que planejamos a vida inteira.

– Depois eu faço, ainda tenho tempo.
– Não! Não tens mais tempo.

Ele passou por aqui como quem entra e sai de uma sexshop, sorrateiramente pra não ser notado, mas suas marcas são específicas, únicas, nos deixa cicatrizes, arrependimentos, remorsos... quando iremos parar de culpá-lo? Nunca, ele não merece!

O peso do tempo passando, enquanto existe uma decisão que precisa ser tomada é incomensurável. Ele não alivia o sofrimento, de propósito. A propósito, o tempo é, apesar de relativo, vingativo e terrorista. Não entende que as pessoas são complicadas mesmo e que é preciso andar mais devagar para a resolução de alguns problemas. A culpa é dele.

Não há nada mais velho que o tempo. Dizem os cientistas que no segundo zero deu-se início ao Universo. Por isso que não eximo a sua culpa, por ser tão experiente e “vivido”, deveria ser mais complacente e piedoso. Ao invés disso, tortura quem dele depende e não se mostra totalmente (fingido), apenas segundo a segundo, como quem se delicia com a dor e a angústia alheia.

Tenho que ir... não tenho mais tempo.

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