6.10.10

Envelhecência

Quando o primeiro da turma casou, não sabíamos exatamente o que dizer. Birôio era legal e da gréia, apesar do estrabismo e de ser o mais gordo entre os recém adultos amigos de infância. Um dos poucos que tinham carro, namorava com Laurinha...

Ahh... Laurinha. Não sabíamos exatamente porque ela escolheu Birôio pra namorar, e muito menos pra casar, mas aposto que qualquer um de nós gostaria de desbravar essa nova etapa da vida ao seu lado. Ela era incrível. Daquelas que desafiam paradigmas. Bonita, inteligente e canta.

Lembro de um churrasco onde Douglas (esse era o nome de Birôio) chegou um pouco depois de Laura dizendo na roda de amigos: “oi amore, desculpa o atraso”. Laurinha rebateu de pronto: “fala feito homem, porra!”. Ela não gostava de frescuras adjetivantes: mozi, momo, cuti-cuti... esse papo nhenhemzinho era amplamente descartado por Laura. Mas mesmo assim casou-se com Birôio.

Nos anos seguintes quase todos nós da rua casamos, o último solteirão acaba de mandar o convite do seu casamento por e-mail, porém, durante muitos anos havíamos perdido o contato com o primeiro casal oficial da turma.

Passados mais de 20 anos desde o casamento de Birôio e de Laurinha, noventa por cento dos casamentos daquela galera não aguentou os melindres e caprichos da convivência conjugal e acabaram antes das primeiras bodas, inclusive o meu.

Esta semana eu estava fazendo compras no Extra e ao entrar na seção de congelados, deparei-me com Laurinha, três meninas e, pasmem, Douglas, casados, felizes e divertidos como sempre. Disseram que voltaram para o bairro. Laurinha, agora já coroa, continua uma gata de arrebatar corações e deixar peruas de 25 anos roxas de inveja. Se ela lesse meu pensamento diria: “fala feito homem, porra!”.

Ahh... Laurinha.

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