6.9.06

O desaparecimento de Suzana


Saí pra minha caminhada matinal no parque da Jaqueira, como de costume. Recomendações médicas. Apesar de que o meu problema não era nenhuma questão de saúde grave, e sim, condicionamento físico. Estava cansando muito fácil, e o meu médico sugeriu que eu percorresse 6 Km, todo dia.

Numa dessas caminhadas, no dia do meu aniversário, conheci Suzana. Nossa amizade aconteceu de primeira, ela era uma daquelas pessoas de fácil convivência, sem frescuras e que falava de qualquer assunto. Bem, na verdade os assuntos eram “puxados” por mim, não lembro muito bem que Suzana tivesse iniciado qualquer conversa. Mas isso não importa. Nossa amizade manteve-se inabalada durante um ano. Todo dia nos encontrávamos no portão principal e começávamos os exercícios.

Era meu aniversário, de novo! Não via a hora de encontrar Suzana, chamá-la pra sair e comemorar... estranhamente ela não apareceu. Fiquei indignado, com raiva mesmo. Como uma pessoa tão legal e amiga, deixa de aparecer ao nosso compromisso cotidiano, justo no dia do meu aniversário. Eu falava dessa data há pelo menos um mês. Achava que ela tivesse entendido as minhas indiretas de que iria pedi-la em namoro (antigo, né?) naquela noite.

Já estava na sexta volta pelo parque, quando um moleque chegou junto a mim e me entregou um bilhete que continha os seguintes dizeres:

Av. Beira Mar, 1478 – Aptº 1204 - Boa Viagem.
Você tem que chegar hoje ao meio dia.
Um Beijo, Suzana.

A curiosidade ficou extremamente aguçada. Óbvio que fui correndo pra casa tomar banho e me arrumar para atender ao que dizia o bilhete. Não queria atrasar. Já imaginava que Suzana devesse ter preparado uma festinha surpresa. Às 11:50 cheguei ao endereço especificado, era um desses hotéis “Plaza num sei das quantas em latim”. Quando me dirigia a recepção, fui abordado por uma amiga de Suzana, Clarinha, já as tinha visto papeando na pista de cooper, no aquecimento para as caminhadas.

– Oi, sua suíte já está pronta, quer me acompanhar?

Não disse uma palavra, apenas fiz um sinal de afirmativo. Clarinha me levou até o elevador panorâmico, apertou o 12º andar e me deixou subir sozinho. O apartamento 1204 estava com a porta entreaberta. Bati levemente e fui entrando. Cortinas fechadas, pétalas no chão e velas, muitas velas, daquelas gordinhas, que deixam cheiro de essências no ar.

Essas suítes de luxo têm um problema... são grandes demais, ainda atravessei dois ambientes para chegar à cama. Valeu à pena. Suzana estava lá, linda, camisola de seda novinha, braços abertos, ao seu lado sobre a cama, estavam dois presentes, devidamente embrulhados e etiquetados com os números um e dois. Na sua cintura havia ainda outra etiqueta com um três estampado. Ela me disse que os três presentes eram meus, e que eu deveria abri-los e usá-los na ordem indicada.

A primeira caixa continha em pijama, também de seda, combinando com a sua camisola, e um CK one. Rapidamente, tomei um banho para vestir a indumentária e colocar o perfume. Só então abri a segunda caixa: um pacote de camisinhas e um tubo de KY... a essa altura, a camisola de Suzana já não era mais vista em canto nenhum do Recife e, já que o presente número três estava à minha frente, e suas intenções foram reveladas com o número dois... acredite se quiser, na melhor hora, a campainha tocou:

– Pois não?
– Somos da segurança do hotel e fomos informados que o senhor invadiu esse quarto.
– Deve haver um engano senhores, minha namorada, Suzana fez a reserva e me convidou. Podem perguntar à Clara da recepção...
– Não existe nenhuma Clara na Recepção! Queira nos acompanhar.
– Espere! Suzana, vista-se e venha explicar a esses senhores o que está acontecendo aqui... Suzana? Você está aí?

Procurei-a em todos os cantos do quarto. Como ela passou por nós? O lugar só tinha uma porta e não dava pra sair pela janela no 12º andar... disseram que na fita da segurança do hotel, viram quando eu cheguei e entrei no elevador, sem falar com ninguém. E eu quero deixar registrado, senhor delegado, que roubaram os presentes que ela me deu. Não havia mais nada, nem roupas, nem perfumes, nem pétalas, nada! Só podem ter sido aqueles seguranças. Inclusive, uma recepcionista de lá, disse que me via muito freqüentemente andando sozinho no parque da Jaqueira. Impossível, desde o primeiro mês que só caminho com Suzana...

– Escute aqui! Você foi preso em flagrante por arrombamento do quaro do hotel. Não havia nenhuma Suzana, aliás, não há nenhuma Suzana na sua vida, já investigamos. A ambulância do hospital psiquiátrico já está a caminho para levá-lo e iniciar seu tratamento. Não se preocupe, você vai ficar bem.
– Doutor, é o seguinte: sei que tenho direito a um telefonema, quero fazer uso dele agora...
– Pois não, pode ligar daqui mesmo.
– Alô, Suzana? Você não imagina o que estão dizendo...

6 comentários:

Luma Rosa disse...

kkkkk Essa história me deu medo, muito medo!!
Será que existimos mesmo?
Beijus

Jim Ritz disse...

Caramba...

Que fase, hein?
O pior de tudo é o cara sonhar com o tubo de KY.. rs

Luci disse...

cruzes! rs!!!
bjs!
adorei!

Unknown disse...

Adorei, muito bom...

Tenha um final de semana maravilhoso, com ou sem Suzana...

Ce

Anônimo disse...

Boa tarde.....

Céussssssss......
Parque da Jaqueira...sei....
Rsss...
Bjs....

\o/ disse...

adorei!!! bjs