14.2.06

Era uma vez, certa timidez...

Rui era reservado. O mais reservado possível. Não sei como ele conseguira alugar aquele apartamento no bairro da Encruzilhada com toda aquela timidez! Apesar de morarmos no mesmo prédio há cinco anos, nunca o vimos por completo, no máximo conseguíamos enxergar rapidamente sua mão ao receber alguma encomenda. Soubemos o seu nome pela relação de aniversariantes do condomínio – 06 de abril –. No do ano passado tentamos uma aproximação, sabe como é? Somos vizinhos de porta com porta e NUNCA nos falamos, parece que ele espera todo mundo sair para deixar seu refúgio... Tati fez uma torta de morango e eu comprei umas velinhas, 33 ao certo. Sabíamos que estava acordado, mas depois de meia hora tocando a campainha, desistimos.

Como médico por formação, senti-me na obrigação de “ajudar” aquele ser enigmático, ainda mais tendo optado pela especialização em psicanálise, na eterna busca em entender os percalços da natureza humana. Confesso que tive um certo teor de egoísmo nesta empreitada em solucionar o problema do meu vizinho, claro! Minha tese para o mestrado poderia sair daquele paciente em potencial!

Eu nunca poderia imaginar que o desfecho dessa história seria trágico! Logo com ele, um cara que nunca tinha nem falado comigo, nem com Tati, pelo menos era o que eu pensava seu delegado! O senhor pode imaginar a minha surpresa ao chegar em casa e ver minha esposa atracada no tapete da sala com um homem? Pensei... ou é assalto ou é gaia! E em ambos os casos, tenho certeza, sua reação seria a mesma que eu tive. Peguei o taco de beisebol, o mesmo que Tati me deu para a fantasia do carnaval passado, e desferi os golpes no individuo. Sinceramente, só estou sabendo que foram 38 porque o senhor me contou.

Por outro lado, sei que devia ter pedido alguma explicação a Tati antes de acertar a sua cabeça, mas sabe como é doutor? Contra imagens não há argumentos, e o que eu vi me pareceu muito evidente. Aquele sorriso no seu rosto me deixou profundamente perturbado.

Imagino que o senhor está pensando que foi crime com premeditação, não é? Mas saiba que eu sempre fui da paz, até pedágio em sinais de trânsito para campanha do quilo eu já fiz. Por isso seu delegado, peço-lhe encarecidamente: fale com esse juiz e peça pra ele reconsiderar... já tenho 35 e com os 65 da pena que ele me deu, nunca mais vou ver minhas criancinhas. É certo que ainda não as tenho, mas gostaria de tentar outro relacionamento quando sair da prisão, e com 100 anos, definitivamente, não dá!


P.S.: foi só uma historinha para a volta das férias. Abraços a todos.

7 comentários:

Mack disse...

Texto fantástico pra quem estava de férias literárias esse tempo todo!

Já estava com saudades de você na net e aposto que as outras fãs também...

Seja bem vindo, meu aMoR!

Yvette Maria Moura. disse...

Puxa! Longas férias!!!
Já estava com saudade, meu Rei!
Beijo grande.

Lelinha disse...

Tese para o mestrado, um vizinho!?
(olhos brilhando alegremente!)
A-D-O-R-E-I-!-!-!

Obrigada pela visita "No Baheiro Feninino".

Beijocas...

Lelinha disse...

"no banHeiro feminino"
Porque um (agá) faz grande diferença. Enooooorme...
Esclarecidos!?
Beleza!
Té mais!

Jackie disse...

Que bom que vc voltou! Seja bem vindo!!! Bjokas!! Ah e parabéns pelo texto, muito legal!

Ana disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Ana disse...

Depois que vc disse que meus versos são musicais comecei a olhar pra eles meio desconfiada! Será?!
Tenho outro blog:
http://roccana2.blogspot.com/
Sabe? Este outro blog tem algumas "finalidades" parecidas com as "Do Ás ao Rei"! É também um blog que quer desabafar, quer se encontrar... Com exceção das poesias, confinadas ao que vc já conhece!
Gosto das tuas histórias! Gosto muito!