26.12.05

Todo mundo pra fora!

Ontem eu estava lendo Veríssimo, aquelas Comédias... numa crônica, encontrei um casal na cama, momentos antes de iniciarem o ato sexual. De repente, sem ninguém esperar, ela começa a dizer coisas do tipo: – não estamos a sós aqui! – Claro! Era o pai dela que se unira aos dois pra ficar olhando, e não era só ele, tinha também o seu superego que às vezes se confundia com a figura paterna, mas seu namorado logo tratou de explicar que eles eram “pessoas” distintas mesmo, como lhe dissera seu analista. Causou-me estranheza, o cara também ter essas nóias, o que se esclareceu rapidamente, quando ele disse que o analista também estava na cama com todos eles, além, é claro, da sua mãe.

Já que a mistura estava ficando muito cosmopolita, e a cama não era lá das melhores, continuei lendo o texto, esperando o momento do crash, acho que estava querendo mesmo ver aquela cena: todo mundo nu no chão do quarto, rindo da situação ridícula imposta pelas suas presenças... opa! Ainda tinha mais gente pra chegar: o cara sai com uma que, na verdade, cada um deles (o casal) eram três, ou seja, seis: o eu, o alter e o superego. A coisa só esfriou quando a mulher disse que o Mendoncinha tinha acabado de chegar à festa... é isso mesmo, o Mendoncinha, aquele namorado que a desvirginara!

Foi a gota d’água! O cara já não tava muito à vontade diante daquela suruba familiar, e agüentar o Mendoncinha já seria demais... deixaram a transa pra mais tarde, o que deve ter desagradado muita gente naquela cama, inclusive o Mendoncinha!

Veríssimo sabe, como poucos, retratar a vida em contos rápidos e hilários. Não sei se ele se inspira em amigos, ou nele mesmo, ou na família, ou ainda, se cria tudo sozinho, mas sei que o faz com a destreza que lhe é peculiar e com a precisão de quem nasceu sabendo!

Acho que na “vida real”, tem gente que faz isso mesmo. Gente que não consegue separar as preocupações, aflições e fantasmas, mesmo nas horas mais sublimes da sua curta passagem por aqui, do eterno momento do amor. Gente que vê conta de luz na hora do clímax, que vê outras pessoas em um instante em que só dois interessam. O único ego que o casal precisa nessa hora é o EGOísmo, de um para com o outro... que se amem e aproveitem o instante, que é deles, e se dêem, e se amem!

2 comentários:

Mack disse...

EGOistamente...
Amo você.

Laura_Diz disse...

Falou...
Veríssimo é ótimo, é sutil, inteligente, gosto muito, eu já li esta crônica, é engraçada. Na psicanálise existe isto dos fantasmas dos pais, vc me ama porque eu tenho algo de sua mãe, por aí vai, amores, transferências, etc e tal.
EGOismo é ótimo, é verdade,se vc se desliga do seu prazer não consegue ter prazer e mela tudo.