12.12.05

Prólogo incontinente

– Se você continuar se comportando assim, findará por quebrar alguma parte do corpo, ou por adquirir alguma doença. Sabia que tinha gente que morria disso, antigamente?

– Muito pior, meu amigo, são as seqüelas do coração. Tais perdas não contam com a ajuda alheia para sarar. Bandagens e ungüentos não aliviam a dor, nem saberia indicar, ao certo, onde colocá-los. Sim! O amor mata, desconcerta o corpo e a mente, mas sem ele, as dores do mundo inteiro seriam sentidas na pele com todo furor. Se amamos, abrandamos os males, às vezes, nem sabemos deles, mesmo que estanquem em nossa frente.

– Vocês, metidos a poeta, pensam muita asneira. Não vêem que os amores vão e vêm, assim como as amizades. A vida sempre continua, independente deles, ou melhor, ela anda até melhor, se não se apegar a eles.

– Ledo engano. Não buscamos a poesia para expressar nossos pensamentos. Ela nos procura, nos aponta o caminho, como um labrador à sua caça. Fica imóvel, observando, esperando o nosso sangue atingir a temperatura certa, o “ponto de ebulição” do pensamento poético, e então, quando estamos preparados, nos atiça rápido, alçamos vôo sem medo de cair, sem limites de velocidade ou trena de palavras, sem prantos, mesmo que os demonstremos em nossos verbos.

– Não entendo vocês! Se sabem que vão cair, porquê saltam? Pés no chão e a certeza da não queda seria uma atitude mais prudente, diria até mais inteligente, mesmo.

– O inteligível passa pelo consciente, mas não há razão tão forte quanto o poder da emoção. Tais intelectualidades diluem-se quão lágrimas em oceano. É como tentar evitar que o algodoeiro se molhe numa enxurrada de desejos. Precisamos de tais sentimentalidades, nos fazem viajar, quase atingir o sol, contorná-lo e voltar para sentir a reciprocidade.

– E os que são sós, vão ter bem a ver?

– Sim, amigo monossilábico. Esses terão o respaldo da sua própria alma, e dos que o lerem por toda a vida, pois, como cuneiformes, em remotos tempos, perdurarão, pelo menos para quem os amou, e já é mais que suficiente para a eternização do ser.

– Entendi.

– Um abraço.

P.S.: adormeci e fui dialogar com outros camaradas...

Um comentário:

Laura_Diz disse...

Que lindo! bj laura