6.12.05

Os novos analistas

Há muito, muito tempo (sempre quis começar assim), nesta mesma galáxia, no mesmo planeta, antes da chamada “civilização moderna”, bem no início do período medieval, quando a Igreja ainda estava solidificando suas posses e sua doutrina, a custa de sangue, sacrifícios e de batalhas motivadas pela ampliação dos “feudos eucarísticos”... começou, ou melhor, se fortaleceu o processo que demonstra a capacidade humana de encontrar formas para solucionar problemas de relacionamento íntimo, inerentes a todos.

Neste caso, a inquietude do ser, ante seus próprios defeitos, justapostos à imperfeição das relações com indivíduos da mesma espécie, foram percebidas por estudiosos da natureza humana, eclesiásticos, no caso, possibilitando a criação de um método para desafogar mágoas ou pecados, comuns a uma sociedade que não conhecia os limites do humanitário e do perdoável. No final do século XIII, criou-se então, o confessionário, responsável por administrar o Sacramento da Reconciliação (consigo mesmo, e com Deus), que só viria a ficar universalmente prescrito em meados do século XV, um lugar físico em que o próprio cristão extraía suas mazelas e fazia o expurgo do seu mal.

No filme A Ilha (The Island), dirigido por Michael Bay (que se assemelha em muitos aspectos ao livro O Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, – apesar de dizerem que o seu roteiro é “original”), a tentativa de se criar meros repositores de órgãos, seres sem consciência que serviriam ao único propósito de salvar vidas humanas (se bem que apenas as vidas de quem dispusesse de alguns milhões para tal benfeitoria), sempre falhava, porque os tecidos e células se degeneravam sem uma razão para viver, sem uma alma, sem ambições e sonhos. Considero tal visão como sendo a que os antigos religiosos, e até mesmo seus antecessores, tiveram sobre o futuro das conseqüências que a vida sem “o temer”, ou sem o alívio de quem não compreende sua razão poderia trazer. A solução foi providencial.

Mais tarde (século XVIII), em uma esfera mais próxima do ser real, terreno, difundiu-se a psicologia clínica com tratos psicanalíticos. A medicina da mente e seus precursores descobriram que análises e auto-análises, também são essenciais para o bom desenvolvimento cerebral. Podem ajudar pessoas que se encontram em conflitos ou passam por provações, a entenderem seu problema, que já seria um grande passo à resolução do mesmo.

Hoje, vejo que as análises e confissões de outrora, que ainda permanecem presentes à época atual, têm um novo concorrente (ou ajudante), um espaço destinado a praticamente todos, e a qualquer assunto, os blogs. Serão estes os novos “doutores” das almas? Estarão destinados à ajuda e à solidariedade? Se firmarão como fontes perenes de ajuda, ou de auto-ajuda?

É preciso que se diga que nem todos os blogs da web são destinados às relações interiores, afinal o espaço é livre, mas a partir do momento em que escrevemos a verdade do coração, o que sentimos realmente, revela-se prazeroso e vicioso. Tenho alguns exemplos de blogs assim, alguns estão linkados, outros em bookmarker, mas todos importantíssimos na minha estrada.

P.S.: foi um pouco denso no começo, mas tive que fazer essas comparações... como que martelassem no cerebelo, e findassem por eclodir nessas palavras, abraços.

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