15.12.05

O imprevisível ser

É entre sutilezas, improvisos e imprevistos, que a vida nos revela momentos mágicos. Há quem aproveite o enredo para enaltecer as maravilhas da natureza, ou para demonstrar as perfeições do cosmo e suas inter-relações, ou ainda a beleza de pintura de um gol, de virada, de bicicleta, aos 47 do segundo tempo! Ufa! Mas prefiro ressaltar as pequenas reações humanas, que emergem em momentos inesperados.

O telejornalismo é um exemplo corriqueiro desses acontecimentos inusitados. Dentro do contexto, lembro de três ocasiões onde as reportagens tenderam para desfechos, no mínimo, cômicos, apesar da seriedade que o momento exige, afinal, seriedade transmite credibilidade, que é o que garante a audiência em um programa jornalístico.

O primeiro fato ocorreu quando Lílian Wite Fibe teve que noticiar uma apreensão de dez mil comprimidos de ecstasy, efetuada pela polícia de Miami, onde os traficantes (na minha opinião, os protagonistas) eram uma velhinha de 81 anos e um suposto namorado de 56, que na sua declaração à polícia disse saber da existência das pílulas, porém pensou se tratar de comprimidos de Viagra. Palavra chave para detonar uma crise de riso na apresentadora, que passou mais tempo rindo descontroladamente do fato, que na leitura da reportagem, e acabou por finalizar o jornal lindamente, com a classe que lhe é peculiar...

O segundo fato foi a entrevista que todos viram, em que Bianka Carvalho conversava sobre nutrição com Ruth Lemos (nutricionista pernambucana), quando aconteceu a maior crise de gagueira ao vivo que se tem notícia na televisão brasileira. O infortúnio, causado por um delay no som do ponto auricular da entrevistada, a confundiu e causou um dos maiores sucessos de disseminação de arquivo de vídeo na internet (teve gente dizendo que no mesmo dia já havia visto o vídeo em um site japonês). Neste caso, o ocorrido ajudou na popularização da “vítima”, que foi ao programa do Jô e fez até anúncio para companhia telefônica.

O terceiro é mais recente, ocorreu quando Sandra Annenberg e Evaristo Costa pegavam o retorno da reportagem onde o prefeito de uma cidade decretou que “ninguém poderia morrer” devido à falta de vagas no cemitério de sua cidade. Quando a câmera voltou para os referidos âncoras, os dois estavam debruçados na mesa, sem condições de falar, um querendo passar para o outro a “bola” e dar prosseguimento ao jornal.

Todos estamos sujeitos a situações em que o consciente perde o controle da ocasião e o tal do alterego não consegue suplantar as vergonhas ou emoções, principalmente quando acontece uma relação onde os olhares se voltam para nós ou quando o nervosismo (que não foi o caso da maioria dos fatos acima) nos absorve.

Uma vez, quando tinha uns 14 ou 15 anos fui pedir uma menina em namoro – soa tão antigo, né? – Marcamos na praça, a avistei quando ela dobrou a esquina, mas, ao me aproximar, quem disse que saiu alguma palavra? Nada! Baixou um frio de rachar, apesar da temperatura amena (25º, estimo), uma batedeira de queixo, e a completa fuga de quaisquer palavras... nem boa noite eu dei.

P.S.: nunca namorei com ela, mas em compensação, nunca mais aconteceu uma "pane" dessas... graças.

Um comentário:

Márcia disse...

isso acontece com mais frequencia que imaginamos, faz parte dos nossos dias "essas falhas nossas"..
bom seu texto.
lindo dia
beijosssssssss