9.12.05

“Indignação indigna”

As arbitrariedades e o abuso de poder estão presentes em todas as esferas da sociedade, acho até que são inerentes à psiqué humana. Sempre me deparo com situações em que a injustiça anda lado a lado com a arrogância e a falta de crescimento interior de alguns.

Há alguns meses eu vinha dirigindo pela avenida Agamenon Magalhães (acho que toda cidade tem uma), quando o sinal de trânsito “amarelou”. Dava para passar, mas resolvi frear porque a velocidade que eu vinha permitia isso, o mesmo não aconteceu com um carro que estava ao meu lado, por vir bem mais rápido que eu, o motorista acelerou mais um pouco e o transpôs enquanto ainda estava no amarelo.

Um guarda de trânsito que estava na esquina, apitou, sacou sua esferográfica Bic, e começou a expedir a multa. Infração gravíssima, já que se tratava de um suposto avanço de sinal vermelho (sete pontos na carteira, fora a grana), naquele momento, baixei meu vidro e argumentei com o “verdadeiro infrator”: o guarda, que o sinal ainda estava amarelo, quando o carro passou. Rapidamente, ele retrucou apontando a caneta para mim:

– “Fica calado, senão eu multo você também!”

Obedeci. Fechei a janela, esperei o sinal abrir e segui o fluxo, indignado com a reação do policial, que por razões injustas, pelo menos para quem foi multado ou ameaçado, usou o, para ele, “grande poder da autuação”, para desafogar mágoas pessoais, problemas em casa, com a mulher, cumprir metas, ou sabe-se lá o quê?

Minha indignação foi maior comigo mesmo. Talvez, atitudes de omissão como a que tive, sejam o que mantém esses fatos acontecendo à nossa frente, à luz do dia. Talvez o certo fosse chamar uma autoridade e relatar o fato, ou ir aos jornais, ou descer do carro e o afrontar pessoalmente... mas tive medo que o sistema já estivesse corrompido, e pudesse acontecer o pior, ou, no mínimo se ratificar a multa da ameaça.

Em outro caso, “deu em o jornal” que uma juíza fez, realmente, uma convergência proibida e o guarda, acertadamente a multou. Ela estacionou, identificou-se como magistrada e exigiu que o policial retirasse a infração. Ele não cedeu aos apelos abusivos da “cidadã acima da lei” e a multou realmente. Resultado: agora o policial que foi defender seus princípios, está regulando o trânsito em Cabrobó, devido à sua transferência da capital, solicitada, adivinha por quem?

A omissão tem sido um fator que, às vezes, se torna pior que o ato arbitrário, por possuir efeito cumulativo. Quando ocorre tal falta de ação, deixamos para os nossos sucessores, a possibilidade de encontrar o mesmo destino: a injustiça cruel das imperfeições humanas.

P.S.: farei os esforços que puder para não ser omisso, principalmente quando envolver pessoas amadas e desejos reais.

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