7.11.05

Querido desencontro

No início eu nem estava querendo ir àquela farra, mas meus amigos insistiram, pintaram um quadro que mais parecia uma propaganda de cerveja: – “vai ter muita mulher, muita bebida, gente bonita e espírito de festa, vamos lá!”. – Apesar do estado “down”, postura cabisbaixa e aperto no peito, característicos de quem acabara de passar pelo que passei, resolvi dar uma chance a mim mesmo e me vesti para a ocasião. Traje nada especial: a camisa de sempre com emblema e lembranças de glórias e derrotas; e um par de sandálias de couro que comprei em Caruaru no último São João.

Chegamos e fomos logo entrando. Confesso que tive muito medo de encontrá-la, tal receio já estava fazendo parte das minhas saídas há algumas semanas. Idas a shoppings, cinemas, alguns poucos bares e até à bancas de jornal, já me levavam a estado de alerta, como se a possibilidade deste encontro fosse mais e mais iminente a cada esquina. Na verdade, do fundo do meu coração, era isso mesmo que desejava, secretamente, ardentemente, já não agüentava mais de tanta saudade. Apesar de termos ciência da real impossibilidade da nossa vida a dois, tantas vezes discutida.

Havia mais de cinqüenta mil pessoas no evento, muita gente, muita animação. Encontrei alguns amigos em comum, mas sabia que estava a exatos 180 graus dela. Costumávamos ficar perto da saída principal, do lado da rua das Moças, era lá que tocava a Sanfona Coral. Se estivéssemos juntos, por certo estaria tocando triângulo e cantando as paródias corriqueiras.

A senti do outro lado, inerte, inatingível, procurando-me em meio a milhares de cadeiras ocupadas por gente com roupas tão parecidas, como que soubesse que eu estava lá. Sabíamos a posição exata, um a do outro, pois, antes da nossa união, sempre ficava na mesma cadeira, mania de fixação, sei lá, porém, àquela distância só dava para enxergar pontos coloridos do outro lado.

Entre um lance e outro, um dos amigos comentava: – “visse este drible?”, Eu respondia que sim, porém ainda estava a buscando, filtrando cada cor como quem lapida diamantes. Sabia da impossibilidade da definição do olhar, mas esperava que ao atingí-la, algo ocorresse, algum sinal, uma taquicardia, talvez. Nada aconteceu, no final não houve vitória, nem derrota, apenas um empate do meu time, que se encaixou perfeitamente na nossa situação: empatada; sem contato, nem ao menos o visual. Segundo suas próprias palavras: – “até o nosso próximo encontro, na provinciana Recife”. – Até agora ela tem se mostrado imensa, novaiorquina. Não foi dessa vez, e já nem sei se quero que o encontro ocorra, mas continuarei indo ao estádio observar os pontos coloridos e repensar a vida!

P.S.: Até quando se espera por calmaria, onde áreas receptoras de ventos são tão aparentes?

Um comentário:

Laura_Diz disse...

É isto mesmo, buscamos o olhar do outro no meio da multidão.
Adorei o PS. Abs, laura