11.11.05

Inácio Mentira – Parte II: a profissionalização

Ele chegou com uma baixinha, ao qual a pouca estatura se acentuava pela proximidade com aquele ser agigantado. Era simpática a menina, já chegou sorrindo! E antes de ser apresentada já houvera apertado as mãos de todos da “roda”.

– “Essa é minha namorada: Carol”. – Disse Inácio, com uma ponta de orgulho, que escorria do alto dos seus 1,96 metros, talvez por estar acompanhado pela primeira vez em anos de convivência, e por ela ser bem afeiçoada.

Após a apresentação, como de costume, foi logo entrando na conversa: falávamos sobre as aulas de informática que aconteceriam como preparação para o concurso público da receita, e da minha escalação para o simuladão que aconteceria no domingo vindouro no Iteci. Já Fábio, que trabalhava no Interdata iria aplicar a prova na unidade de Boa Viagem. De repente Carol nos assombra com a seguinte declaração:

– “Júnior – como o chamava, também vai aplicar esta prova na Interdata da Boa Vista”.

Notícia que foi confirmada pelo próprio Inácio. Ora, sabíamos que o nosso amigo, aquele mesmo que não tinha intimidade nenhuma com a informática, não poderia, de uma hora para outra, ter sido contratado para dar aulas de iniciação à computação, e o próprio Fábio nunca o vira nas reuniões de instrutores da empresa. Tudo bem, pensamos. Quem nunca contou uma mentirinha para impressionar uma namoradinha? O pior é que ele mesmo, sem a presença dela, confirmou tudo conosco, e ainda disse que estava com cinco turmas, assoberbado de trabalho. Até brincamos que era um professor virtual, mas ele insistia que fora contratado após vários testes seletivos. Pois bem, brincamos o resto do dia e não o encontramos mais até o fim do carnaval.

Outro dia fomos convidados para um churrasco na casa de seu Ramos, pai de Dani, amiga muito querida por todos e muito desejada por alguns. Por ser um “grandão” da Volks, era “bombado”. A estrutura que dispunha nosso anfitrião para receber convidados era coisa de cinema. Foi a primeira vez que vimos uma churrasqueira elétrica rotatória com capacidade para mais de 300 asinhas e dez quilos de picanha simultaneamente. A casa parecia um hotel: sauna, jogos de salão, piscina com bar dentro, o que nos deixava à altura da figura mais procurada por todos nessas horas, Zé. Aquele caseiro “gente fina”, que em comemorações “atacava” de garçom.

Sentávamos nos banquinhos dentro da piscina, com água até o peito e pedíamos uma cerveja super gelada ao “bar-man” mais querido do evento: – "Zé, desce uma". – Ele, com a desobediência que lhe era peculiar, abria logo duas, das mais geladas ainda...

Confesso que tínhamos uma relativa timidez em relação ao excesso de mordomia. Todos, menos Inácio, que, penso eu, incorporava alguma entidade das elites antepassadas, e parecia um burguês com gestos finos e discurso nobre (como se não o conhecêssemos), principalmente na presença de sua namorada, a mesma do carnaval. Não sabíamos sequer o motivo da festa, pouco importava, estávamos à vontade na mesma mesa que a filha do dono. Ainda dava tempo de tocar violão, pois havia um verdadeiro palco com equipamentos de última geração e até jogo de luz.

Muita gente se confraternizava naquele dia, quando de repente instaura-se uma confusão vinda da piscina:

– “joguei mesmo! E jogo de novo nesse safado”.

Pelo adjetivo utilizado, já imaginávamos quem fora o pivô ro “rebuliço”.

– “esse safado, ladrão, corrupto mentiu pra mim e eu joguei o balde cheio de água na cabeça dele!”

Carol acabara de descobrir que seu namorado não era formado, não dava aula de informática e que, provavelmente, não iria pagar o dinheiro que pedira emprestado até receber o pagamento do curso. Quem disse tudo isso , o desmentindo perante seus tios, foi a sua prima, que por coincidência era ex-namorada do mesmo, e que caíra no mesmo golpe, só que a profissão que o malandro disse ter era de jogador de basquete do Português, e um dos únicos a receber salário...

Inácio, após se recompor do golpe desferido por Carol com o uso do balde disse:

– “Amor, ela deve estar me confundindo com alguém...”.

O bom mentiroso nega até a morte... e foi-se embora se lamentando e segurando sua posição até o fim. O namoro acabou e passamos mais alguns meses sem vê-lo, até que um dia...

continua...

2 comentários:

Van disse...

Agora eu fiquei curiosa... tive que ler o texto debaixo... continua continua...

Laura_Diz disse...

E... vc sabe segurar o leitor, danado.Abs, laura