23.11.05

Desencontro provocado

- Como assim inadiável? E eu? Você não se importa com o que eu sinto? Quero ver quando eu criar coragem, Savino... se eu crio coragem eu te deixo! Não me venha mendigar carinho depois!

- Simone, deixa de drama! Não entra nessa de discutir relação! É só a última pelada do ano e é de dia... o que pode acontecer de mais? Todas as esposas vão. Por quê você não fica “boazinha” e vem comigo?

- Não Savino! Não vou perder meu sábado, véspera de natal, pra assistir um bando de marmanjos correndo atrás de uma bola. Conheço bem essas peladas, depois tem o chope pra comemorar a vitória ou pra chorar a derrota. A gente vai terminar chegando em casa à noite, cansados e sem tempo de fazer as compras. Vou pro shopping!

E lá se foram... Savino para a pelada e Simone às compras. Mal sabiam que aquele fim de semana reservara mudanças radicais para as suas vidas, essas coisas que têm que acontecer a todo custo, e as circunstâncias ainda corroboram para isso. Até parece que tem alguém “arranjando” todas as coincidências possíveis, a tal “conspiração universal”.

No futebol não houve novidade! O time de Savino perdeu mais uma, “pra variar”! E também “pra variar”, Simone estava certa: rolou uns chopinhos no final da partida, claro!

Do outro lado da cidade, no shopping, depois de comprar tudo que é de presente para a famíia e para os amigos secretos de todos, bate aquela fome e ela vai almoçar na praça de alimentação, como de costume.

No clube de campo já não se tinha contagem certa para os litros de chope que consumiram... muita alegria e descontração, exceto em Savino, que naquele momento se afastara um pouco da farra e sentara em um banquinho perto do lago pra pensar na vida, e se, realmente, era essa vida que ele queria para “sempre” (parece muito tempo, mas quando se trata de felicidade, o sempre é o quão longe o amor e seus limites podem nos levar).

Juliana, amiga de todos, acabara de terminar um relacionamento de cinco anos, e só foi à festa porque as amigas insistiram muito. Ela sempre se sentiu atraída por Savino, mas, por ele ser casado e ela comprometida, nunca havia tentado uma aproximação, até aquele dia, quando o viu só e triste na beira do lago. Naquele instante, projeções à velocidade da luz se fizeram em sua mente, como quem descobrira a relação ideal, a “outra metade” que fora encontrada. Aproximou-se dele, e perguntou o que estava havendo, que não era “aquele” Savino que ela conhecia e que queria sua alegria de volta. Savino não falou nada sobre seus problemas em casa, e de como estava difícil a vida de casado. Falaram sobre o dia, sobre os amigos, as alegrias, até que a sua própria voltou, não sabia muito bem do porquê, mas aquela conversa com Juliana lhe fizera muito bem, tanto que a chamou para comer uma pizza e continuar o papo.

No outro lado da cidade e da estória, Simone já esperava seu pedido: frango à Kiev, como de costume, ela era fixa nas preferências e assim como Savino, sempre comia naquele restaurante quando ia ao shopping. Até que enfim, chamaram seu número, e quando se aproximava do guichê, uma mão segura sua cabeça, tapando seus olhos, e uma voz que não era estranha lhe pedira para adivinhar quem era.

- Marcos, há quanto tempo! Como está lá em Cuba, me conta tudo, seu trabalho, sua família, você casou?

- Oi Simone! Não, não casei, na verdade voltei para saber como você está, como anda essa cabecinha que eu tanto amei, e que até hoje não saiu da minha...

continua

Um comentário:

Jackie disse...

Mesmo em contos como na vida real, há uma veracidade incrível de fatos que às vezes nos confundem.... quero saber mais!!! Bjokas!