24.11.05

Desencontro provocado: desfecho

- Marcos, eu te disse que estava casada. Quando você foi fazer aquele curso na escola de cinema, quase fico louca de saudade, mas achei que foi melhor mesmo a gente acabar. Savino me consolou muito e terminei me apaixonando, casamos mas não tenho filhos...

- Simone, eu lembro que quando soube da notícia quase tenho um treco. Queria voltar e te dizer o que sentia, mas não tava com condições pra isso...

Bom, o papo foi se alongando, se alongando e quando deram por conta já passava das 18 horas. Resolveram assistir a um filme qualquer. Na verdade o filme não era importante, e sim o cinema em si... algumas paixões, antigas ou não, nos deixam assim: sem preocupações com os olhares dos transeuntes, ou sem medo de encontrar algum conhecido. Parece até que temos o plug-in da invisibilidade e que nada nos tira a concentração do rosto do outro. Pois bem, após o filme Marcos insistiu para esticarem o encontro, num lugar mais reservado, óbvio. Mas Simone foi intransigente e disse que não trairia seu marido, apesar da vida conjugal estar atribulada. Se despediram e trocaram telefones.

A essa altura, Savino e Juliana já haviam descoberto milhares de pontos em comum nas suas trajetórias amorosas. Seus anseios e suas decepções, suas dúvidas e, como alguns têm coragem para terminar relações e outros apenas postergam decisões. Mas não era só uma boa conversa que agradara Savino, nem a beleza diferente e hipnotizadora de Juliana, algo mexeu com o seu íntimo, se sentia bem ao lado dela, como se a tranqüilidade que seu coração não encontrara em anos de busca estivesse ao alcance. E o que é melhor: Juliana lhe dera todos os motivos para acreditar que ela também estava sentindo o mesmo...

Savino levou Juliana para casa, que por sinal era uma contra-mão incrível, mas ele nem se incomodou, pelo contrário, queria até que fosse mais longe só para passar mais tempo com ela, os dois também trocaram telefones e se despediram com um beijo no rosto.

Quando voltou pra casa, Simone já o esperava com uma pizza para o jantar e com o seu presente de natal na mão. O natal seria dali a alguns dias, o que causou uma certa estranheza em Savino, mas, como de costume, a beijou e não fez perguntas sobre o seu dia... já Simone:

- Oi Savino, e aí? Me conta como foi a pelada, muita gente?

- É Simone, muita gente. Perdemos de novo, mas a farra não durou muito, não!

- Não durou e você só chegou agora, hein? Imagine se estivesse bom?

- Simone, precisamos conversar sobre a nossa situação aqui em casa. Há algum tempo que a gente só faz brigar e isso não é muito bom para a relação...

- Oi! Não era você quem não discutia relação? O que foi que houve que, de uma hora pra outra, seu pensamento virou 180 graus?

- Andei conversando com Juliana, lembra dela? Era a namorada de Matheus, lembra?
- Sim, lembro. Soube que eles acabaram, o que tem ela... vocês “ficaram” na pelada!?

- Não Simone! Quer dizer, ficamos conversando. Foi um papo muito legal e eu queria que você me dissesse o que deseja da nossa união? Se sua intenção é estar casada comigo até envelhecermos? Porque eu acho que se já estamos com essa falta de diálogo hoje, imagine quando estivermos passando dos cinqüenta? Por enquanto ainda há tempo de ser feliz...

- Bem Savino, eu tava com seu presente na mão para lhe entregar... sei que ainda não é natal, mas queria conversar justamente isso com você, discutir a relação, mas não sabia como começar a conversa, porque você vivia dizendo que não fazia isso! Também encontrei alguém no shopping, Marcos...

- Aquele seu namorado?

- É... almoçamos juntos e depois fomos ao cinema. Ficamos de nos falar pra ver o que essa conversa, que eu iria propor, reservou...

- Pois é Simone, você também sente como eu, que nossa estória acabou, e que seremos mais felizes separados?

- Também acho isso Savino. Nós somos independentes financeiramente, temos nossas vidas muito diferentes e não temos filhos, talvez possamos ficar amigos e, quem sabe, sair com nossos novos amores, não é?

- É.

E assim Savino e Simone realizaram a separação mais amigável e mais rápida que eu tenho notícia. Sem mágoa, sem rancor, sem ressentimento. Hoje, eles vivem em perfeita harmonia com seus novos cônjuges e até já têm filhos...

Essa é uma “obra” de ficção. Na vida real as pessoas se anulam, se batem e debatem, não tomam atitudes que fariam suas vidas serem como sonharam, por imposições da sociedade ou por medo de si mesmos. E quando tomam, geralmente o litígio já está declarado. A coragem, que é na verdade a grande força que realiza as maiores transformações em nossas vidas... ah, a coragem!!!

P.S.: Savino e Simone não são reais, mas eu conheço pelo menos uma dúzia de casais que não se tratam com respeito e que poderiam começar a mudar conversando sobre isso...

Um comentário:

Márcia disse...

mas esse respeito que falta na união e no término da relação,ficção deveria ser realidade..
bom texto!!
linda semana!
beijosssssssssssss