3.11.05

Cenas de um sonho – Parte I

O dia era quinta-feira e, naturalmente, haveria trabalho na sexta, porém, só agora isso lhe ocorre, de tão importante que seria a viagem dali a poucas horas. Nunca estivera em Tamandaré antes, sabia apenas que era para o lado sul, partiu como ave migratória que usa a bússola instintiva. Até sair das cidades que circundam a capital fora uma viagem tranqüila. Havia certeza no caminho e nas decisões tomadas há pouco, mesmo porque, há muito tempo tal atitude tivera sido prometida e agora, ratificada.

Não é sempre que se deixa coisas amadas para trás, sabia disto, não se imaginava sem suas presenças. Ao chegar à entrada de Ipojuca, onde se desdobram os caminhos para Gaibu e Porto de Galinhas, atingira o ponto mais distante da sua casa, até então alcançado. Dali em diante só contava com a sorte para bater seu novo e único objetivo, o amor.

A primeira providência divina fora tomada. Só sabia que seu destino era uma casa, e que esta ficava perto do hospital local, e mais nada. Providencialmente, como tudo que conspira em prol do amor, ouviu uma sirene e olhou no retrovisor, diminuiu a velocidade, a deixou passar, o que possibilitou a leitura das inscrições em sua lateral: - “Prefeitura Municipal de Tamandaré” -. A certeza de que estava fazendo a coisa certa cresceu, e seguiu a ambulância até chegar ao Hospital.

Agora só lhe restava fazer a surpresa que planejara com zêlo e carinho, estacionou na frente da guarita de segurança e ligou para a sua amada, uma, duas, dez vezes e... nada. Começava a se desesperar quando ouviu música, na verdade era aquele ritmo “bate-estaca” que o vento trazia da praia, estava acontecendo um festival e, supôs, que todos deviam estar lá, talvez por a música estar muito alta, ela não tenha ouvido o telefone tocar, pensou.

A providência “atacou” novamente, mal chegara na praia e já avistara seu grande amor em uma sorveteria modesta à beira mar. Ficou no meio da rua a olhando por alguns minutos, a acompanhavam três amigas, que disseram-lhe: - “aquele cara tá te olhando” -. Não estava de lentes, nem de óculos, mas, ao levantar a visão entrou em choque, sabia quem era, sabia da promessa que fez ao deixá-la ir, e começou a acreditar que suas vidas iriam se unir na harmonia que mereciam, correu, abraçou-o com as forças que ainda lhe restavam, beijou-o, com a mesma entrega que o havia beijado todas as vezes. Ali estavam certos de que nasceram um para o outro, como se fossem um só ser...

Continua.

2 comentários:

Yvette Maria Moura. disse...

Gostaria de saber mais sobre você...
O melhor de conhecer o seu blog foi ler nas suas "cenas de um sonho", nome de lugares tão conhecidos e amados por mim: Garanhuns, Tamandaré...
Deu saudade.

Obrigada pela visita.

Ana Paula disse...

Menino...teu depoimento me deixou tão emocionada. Eu pensei que meus escritos não estavam claros, mas depois do que tu escreveste vejo eles são límpidos e cintilam não apenas em mim, mas em pessoas que passam por situações semelhantes. Deixo um abraço!